O editorial da revista The Economist, publicado nesta quinta-feira (31/07), classificou as sanções de Trump contra Alexandre de Moraes como uma escalada inédita nos ataques de líderes populistas às instituições democráticas. Ao aplicar a Lei Magnitsky contra o ministro do STF, Donald Trump impõe um novo patamar de confrontação internacional. O impacto direto recai sobre o Judiciário brasileiro.
A publicação britânica observa que essa legislação costuma ser direcionada a militares genocidas em Mianmar ou a autoridades russas envolvidas em crimes de Estado. No entanto, segundo o editorial, Moraes “não fez nada parecido”. Sua atuação estaria baseada na Constituição de 1988 e em leis nacionais aprovadas democraticamente. Entre elas, está a que trata de crimes contra a democracia, sancionada em 2021, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Protagonismo do STF e o vácuo institucional
Nesse contexto, a revista aponta que o modelo jurídico brasileiro favorece a concentração de poder no STF (Supremo Tribunal Federal). Isso ocorre especialmente quando o Congresso Nacional se omite em temas como a regulação das redes sociais. Em 2024, os 11 ministros do STF emitiram mais de 114 mil decisões. Segundo a The Economist, esse volume ilustra um sistema sobrecarregado e, muitas vezes, centralizador.
Além disso, o texto alerta que o Supremo, em certos casos, atua como vítima, investigador e julgador ao mesmo tempo. Essa estrutura, embora prevista em lei, levanta questionamentos sobre o equilíbrio entre os Poderes. Para a revista, Moraes tem agido dentro da legalidade, mas em um ambiente institucional frágil.
Críticas às sanções de Trump contra Alexandre de Moraes
As sanções de Trump contra Alexandre de Moraes se baseiam na acusação de que o ministro teria violado liberdades de cidadãos americanos ao mandar remover contas em redes sociais. Contudo, a The Economist argumenta que essas decisões estão amparadas por lei brasileira. O inquérito conduzido por Moraes trata de ameaças reais à democracia e à ordem constitucional.
Por outro lado, a ofensiva jurídica americana não se resume às sanções. Em fevereiro, aliados de Trump e a plataforma Rumble entraram com processo nos EUA contra Moraes. Eles alegam que decisões do ministro afetam empresas e usuários americanos. A revista britânica, porém, vê essa iniciativa como parte de uma cruzada ideológica e com pouco respaldo jurídico.
Sigilo do inquérito e riscos de opacidade
Apesar de defender a legalidade da atuação do STF, a The Economist aponta riscos associados à falta de transparência. O inquérito das fake news, por exemplo, corre em sigilo. Dessa forma, é difícil avaliar quais contas foram suspensas, por que motivos e com base em que provas.
Um relatório do Congresso americano citado pela revista indica que, desde 2019, ao menos 88 contas foram removidas da plataforma X (ex-Twitter) por ordem de Moraes. Muitas delas, sem justificativa pública conhecida. Portanto, embora a intenção seja combater desinformação, o editorial alerta para os perigos de excessos em um contexto de baixa transparência. Esse ponto é relevante inclusive para compreender o alcance das sanções de Trump contra Alexandre de Moraes em termos de debate público.
Golpismo e violência: o pano de fundo da disputa
Enquanto isso, o editorial reconstrói os episódios que colocaram Moraes no centro do embate político. Após ser derrotado nas eleições de 2022, Jair Bolsonaro participou de reuniões com generais para discutir um estado de emergência. Também explorou alternativas para anular o resultado do pleito. A investigação conduzida pelo STF aponta que houve planos reais de golpe, com apoio logístico de membros das Forças Armadas.
Além disso, a tentativa frustrada de atentado com caminhão-bomba no Natal de 2022 e os ataques de 8 de janeiro de 2023 são citados pela Economist como provas da gravidade da situação. O editorial afirma que “a maioria dos brasileiros já vê Bolsonaro como traidor”.
Sanções de Trump contra Alexandre de Moraes podem sair pela culatra
Ao final, a The Economist sugere que as sanções de Trump contra Alexandre de Moraes podem provocar o efeito oposto ao desejado. Em vez de enfraquecer o ministro, elas tendem a fortalecer sua imagem como defensor do Estado de Direito. Assim, podem minar ainda mais a credibilidade de Bolsonaro e da extrema direita brasileira.
Por fim, a revista afirma que a ofensiva de Trump isola o Brasil em um momento sensível de sua diplomacia comercial e institucional. Ao mirar diretamente o STF, o presidente americano arrisca desestabilizar relações estratégicas e comprometer a confiança internacional em sua liderança. As sanções de Trump contra Alexandre de Moraes, nesse sentido, marcam uma ruptura política sem precedentes e com desdobramentos ainda imprevisíveis.