A coletiva da FIEC (Federação das Indústrias do Estado do Ceará) sobre a crise tarifária reuniu, nesta quarta-feira (06/08), o presidente Ricardo Cavalcante e o presidente da FAEC (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará), Amílcar Silveira, em uma demonstração de cooperação institucional entre campo e indústria. O evento ocorreu na sede da Casa da Indústria e teve como foco alertar sobre os impactos diretos das novas tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos sobre produtos cearenses.
A palavra-chave de toda a coletiva foi “união”. Ricardo Cavalcante destacou logo na abertura que “a indústria precisa ver o campo, e o campo precisa ver a indústria”. Segundo ele, o Estado do Ceará vive um momento comparável a uma “pré-pandemia”, dada a extensão das cadeias afetadas.
Protagonismo na coletiva da FIEC crise tarifária no debate nacional
Durante a coletiva da FIEC crise tarifária, ficou evidente que o Ceará é o estado mais vulnerável proporcionalmente aos efeitos do tarifaço. O encontro entre os presidentes das duas federações reforçou a urgência de medidas para salvar empregos e preservar cadeias produtivas.
Cadeias produtivas ameaçadas diretamente
Durante a coletiva da FIEC, o industrial Ricardo Cavalcante apresentou dados preocupantes sobre o impacto real da tarifa de 50% imposta pelos EUA:
- Setor pesqueiro: 6 mil embarcações ativas no Estado. Com 3 pessoas por barco e uma proporção de 5 trabalhadores em terra para cada pescador, o setor mobiliza cerca de 70 mil pessoas.
- Castanha de caju: mais de 50 mil pessoas envolvidas na base da cadeia. No dia anterior à coletiva, 20 contêineires de castanha deixaram de ser embarcados por inviabilidade financeira.
- Cera de carnaúba: cerca de 170 mil pessoas trabalham na atividade nos três estados produtores (CE, PI e MA).
- Água de coco: emprega diretamente mais de 10 mil pessoas.
- Acerola: mais de 5 mil pequenos e médios produtores abastecem o mercado exportador, com foco nos EUA.
Ricardo destacou que, em todos esses casos, a interrupção nas exportações paralisa toda a cadeia produtiva, do campo à indústria. “Na hora que a gente para aqui, para toda essa cadeia. E essa é uma cadeia que tem muita gente”, afirmou.
Barreiras sanitárias dificultam readequação de mercado
Entre as maiores preocupações citadas na coletiva da FIEC está a dificuldade de realocar os produtos para outros mercados. Segundo Cavalcante, regras sanitárias e ambientais de países como Europa e Ásia exigem de 2 a 4 meses de adequação.
“Exportar não é como apertar um botão. Existem regras, certificações, trâmites. É um processo complexo e caro”, alertou.
O presidente lembrou ainda que os Estados Unidos são o mercado mais exigente, mas também o mais bem remunerado. Isso explica por que tantos exportadores locais dependem dele.
“Muitos países estão achando ótimo o que o Brasil está passando. É a chance deles ocuparem nosso espaço. E quando um sai, outro entra”, disse.
Bastidores na coletiva da FIEC crise tarifária e as cobranças ao governo
Durante a coletiva FIEC crise tarifária, Ricardo informou que, no acumulado de 2025 até julho, o Ceará já exportou US$ 1,072 bilhão, dos quais US$ 544 milhões foram para os Estados Unidos. Do total enviado aos EUA, 76% é aço e 24% (US$ 130 milhões) são produtos como:
- Castanha de caju
- Cera de carnaúba
- Frutas
- Pescados
- Calçados
- Água de coco
- Couro
- Mel
- Tênis
- Acerola e outros alimentos processados
Apenas no dia 05/08, 7 contêineires de pescado e 20 de castanha deixaram de embarcar devido ao impacto da nova alíquota de 50%.
FAEC: prejuízo no agro e alerta sobre exportações
Amílcar Silveira reforçou que 32% das exportações do agronegócio cearense em 2024 tiveram como destino os EUA. O peixe vermelho, por exemplo, saltou de US$ 12 milhões em 2024 para uma expectativa de US$ 24 milhões em 2025.
Assista à coletiva da FIEC na íntegra:
Auxílio do Estado e cobrança ao Governo Federal
A coletiva da FIEC também foi marcada pelo agradecimento à Assembleia Legislativa pela aprovação de medidas emergenciais. Contudo, ele cobrou uma ação urgente do governo federal. Entre os pedidos:
- REINTEGRA: devolução de 3% sobre cada exportação
- Crédito de IPI acumulado
- Prorrogação das ACCs (Antecipação de Crédito de Câmbio)
“Com esse tarifaço, não tem mais fé de lado nenhum: nem de quem produz, nem de quem compra, nem do banco que financiou. As operações financeiras podem travar totalmente”, alertou.
Conclusão da coletiva na FIEC: um apelo em nome de 150 mil empregos
Ao final, Ricardo Cavalcante foi enfático: “Estamos diante de uma pré-pandemia industrial. Temos mais de 150 mil empregos ameaçados. Essa crise é estrutural, não pontual. Precisamos de uma reação nacional”.
Amílcar Silveira concluiu: “Nosso compromisso não é político, é com o setor produtivo. O que está em jogo é o emprego e o desenvolvimento do Ceará”.
A análise conjunta apresentada na coletiva da FIEC evidencia que a crise tarifária ultrapassa a esfera comercial e atinge cadeias produtivas estratégicas com alto impacto social. A combinação entre concentração de mercado, sazonalidade agrícola e barreiras sanitárias expõe a limitação de alternativas no curto prazo. A falta de previsibilidade, somada à dificuldade de redirecionar exportações, amplia o risco de descontinuidade operacional em setores como pesca, castanha e fruticultura.