O setor calçadista brasileiro vive um momento de atenção, com custos de produção pressionados e mudanças nas condições de exportação. Dentro desse contexto, a Grendene no 2T25 divulgou resultados que não se limitam ao lucro informado ao mercado. Esta análise compara o desempenho com o 1T25 e avalia as perspectivas para o próximo trimestre, considerando o comportamento das vendas no Brasil e no exterior.
A empresa possui sede administrativa em Farroupilha (RS), onde concentra sua gestão corporativa, e sede social em Sobral (CE), base legal e histórica. A estrutura industrial é robusta: são 11 fábricas no Brasil, distribuídas entre Ceará e Rio Grande do Sul. Sobral concentra 6 fábricas de calçados, uma unidade de PVC e um centro de distribuição. Fortaleza conta com 2 fábricas, Crato abriga outras 2, e Farroupilha mantém 1 fábrica, além da matrizaria e da administração central.
Desempenho financeiro da Grendene no 2T25
O lucro líquido atingiu R$ 143,6 milhões, alta de 244% sobre o 2T24 e avanço de 17,9% frente ao 1T25 (R$ 121,8 milhões). O lucro líquido recorrente somou R$ 185,5 milhões (+200,6% vs 2T24). A receita líquida totalizou R$ 555,3 milhões, crescimento de 15,6% sobre o 2T24 e de 5,7% ante o 1T25. O resultado financeiro recorrente foi de R$ 142,8 milhões (+343,7% vs 2T24), enquanto o Ebitda alcançou R$ 71 milhões, alta de 8,9% em relação ao 1T25.
Mercado interno e exportações da Grendene no 2T25
O mercado brasileiro respondeu por 75,7% da receita bruta (R$ 572,5 milhões). As exportações somaram R$ 183,7 milhões, com crescimento de 88% na receita frente ao 2T24. A América Latina concentrou entre 60% e 65% das vendas externas, com destaque para Colômbia, Chile, Paraguai, Bolívia e Argentina, que apresentando sinais positivos na economia.
Para facilitar a compreensão, a participação dos Estados Unidos pode ser vista de forma segmentada:
- Receita total (mercado interno + exportações): EUA representam 2%.
- Apenas receita de exportações: 9% vem dos EUA.
- Volume exportado (pares): 4% do total embarcado vai para os EUA.
Essa diferença ocorre porque a Melissa, marca de maior valor agregado, tem preço médio mais alto nos EUA, elevando a participação na receita externa mesmo com volume reduzido.
Desempenho por marcas e divisões no 2T25
A Divisão 1 — que inclui Grendha, Zaxy, Ipanema, Rider, Cartago, Pega Forte e Grendene Kids — registrou receita bruta de R$ 430,2 milhões, alta de 8,5% sobre o 2T24. A Melissa cresceu 28,9% em receita, impulsionada por campanhas sazonais e pela operação própria nos EUA sob a GGB. A tarifa de 50% imposta a partir de agosto afeta diretamente o posicionamento da Melissa no mercado norte-americano, mas pouco no cenário geral da companhia.
Comparativo 1T25 vs 2T25 da Grendene no 2T25
- Lucro líquido: R$ 121,8 milhões → R$ 143,6 milhões (+17,9%)
- Receita líquida: R$ 525,4 milhões → R$ 555,3 milhões (+5,7%)
- Volume total: 26,5 milhões → 27 milhões de pares (+1,9%)
- Ebitda: R$ 65,2 milhões → R$ 71 milhões (+8,9%)
A evolução demonstra ganho consistente trimestre a trimestre, com controle de custos e aumento de margens em mercados estratégicos.
Perspectivas e desafios para o 3º trimestre
O impacto do tarifaço de 50% dos EUA sobre o consolidado da receita será limitado, dado que o país representa apenas 2% da receita total da Grendene. A antecipação de embarques em julho deve suavizar o impacto no início do 3T25, mas as vendas no mercado norte-americano podem recuar caso a tarifa se mantenha.
Apos o resultado positivo da Grendene no 2T25, a expectativa para o próximo trimestre deve ser de estabilidade no mercado interno e continuidade do bom desempenho na América Latina, enquanto o câmbio e a demanda internacional serão fatores decisivos para as exportações.