Depois de meses de otimismo, o consumo das famílias em agosto registrou freada inesperada e trouxe sinais de cautela ao comércio brasileiro. No levantamento divulgado na sexta-feira (22/08) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o índice Intenção de Consumo das Famílias (ICF) recuou 0,3% frente a julho, ficando em 102,9 pontos com ajuste sazonal. Embora permaneça na zona de otimismo, o resultado reflete a piora na percepção sobre o crédito e o mercado de trabalho.
Na comparação anual, o índice também apresentou retração. Entre os componentes do consumo das famílias em agosto, os resultados foram:
- Quedas:
- Momento para compra de bens duráveis: -6,9%
- Renda atual: -3%
- Altas:
- Perspectiva profissional: +3,1%
- Acesso ao crédito: +1,4%
- Nível de consumo atual: +1,1%
Apesar disso, apenas 32,6% afirmaram perceber facilidade para obter crédito, o menor percentual desde abril de 2020. O dado reforça a dificuldade das famílias em manter o ritmo de consumo diante da alta de juros e da inadimplência.
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Consumo das famílias em agosto e desigualdade por renda e gênero
A pesquisa sobre o comportamento do consumo das famílias em agosto também apontou diferenças relevantes entre faixas de renda e gênero:
- Faixa de renda
- Famílias com até 10 salários mínimos:
- Variações mínimas de -0,2% no mês e -0,1% no ano.
- Famílias com rendimento superior:
- Queda de 0,7% em agosto e 2,4% na comparação anual.
- Famílias com até 10 salários mínimos:
- Gênero
- Homens: retração mensal de 0,7%.
- Mulheres: retração mensal de 0,5%.
- Acesso ao crédito: maior entre os homens.
- Perspectiva profissional: percepção de melhora foi superior entre as mulheres.
Varejo deve movimentar R$ 532 bilhões em 2025
Mesmo diante da cautela, o consumo das famílias em agosto reforça sua importância para o varejo.
Segundo o IPC Maps, os gastos das famílias devem alcançar R$ 532,1 bilhões ao longo de 2025, uma alta de 11,3% em relação a 2024. Os estados que mais concentram consumo são:
- São Paulo: R$ 139 bilhões
- Minas Gerais: R$ 55,6 bilhões
- Rio de Janeiro: R$ 38 bilhões
- Rio Grande do Sul: R$ 36 bilhões
O levantamento também mostrou movimento distinto entre tipos de empresas:
- Microempreendedores Individuais (MEIs):
- Queda de 15,4% no atacado
- Queda de 6,6% no varejo
- Outras naturezas jurídicas:
- Abertura de mais de 70 mil novos comércios
- Total de 5,59 milhões de estabelecimentos no país
Crédito e juros desafiam o consumo das famílias em agosto
No levantamento realizado pela CNC, o cenário indica que, mesmo com expectativa de forte movimento no varejo em 2025, o desempenho dos gastos das famílias em agosto evidencia a sensibilidade da economia ao crédito e à renda. Sem avanços na redução da inadimplência e queda consistente dos juros, o consumo seguirá pressionado, com impactos diretos sobre o comércio e a indústria.