O presidente norte-americano Donald Trump voltou a tensionar a disputa comercial EUA-China nesta segunda-feira (25). Em tom de ameaça, afirmou que, se a China não fornecer ímãs estratégicos, os Estados Unidos terão de impor uma tarifa de “200% ou algo parecido” sobre os produtos vindos de Pequim. A declaração reforça o peso das tarifas de Trump sobre ímãs da China como novo foco da guerra comercial e da rivalidade tecnológica entre as duas maiores economias do mundo.
Ímãs e terras raras no centro do conflito
Os ímãs de alta performance, essenciais para turbinas eólicas, smartphones e carros elétricos, dependem de terras raras como neodímio, samário e disprósio. Esses minerais fazem parte de um grupo de 17 elementos químicos vitais para a cadeia tecnológica e para a indústria 4.0. A China domina tanto a produção quanto o processamento, transformando essa posição em trunfo geopolítico.
Em abril, Pequim incluiu ímãs e ligas metálicas na lista de exportações controladas, em reação às tarifas de importação impostas por Washington. A medida evidenciou como esses minerais críticos deixaram de ser apenas insumos industriais para se tornarem instrumentos de barganha estratégica.
Acordos frágeis e trégua temporária
Apesar da retórica dura, os dois países chegaram a um entendimento em 12 de maio, reduzindo tarifas: os EUA baixaram de 145% para 30% e a China de 125% para 10%. O pacto evitou uma escalada maior, mas a confiança permaneceu baixa.
Em 11 de agosto, o Ministério do Comércio chinês prorrogou por 90 dias a suspensão de tarifas adicionais. No entanto, Trump acusou Pequim de descumprir compromissos, reacendendo temores de que a trégua não seja suficiente para conter o conflito.
Impactos práticos para indústria e economia verde
A possibilidade de tarifas de 200% sobre ímãs preocupa setores estratégicos da economia verde. A mobilidade elétrica, já pressionada por custos elevados, depende de suprimento estável de terras raras para produzir baterias e motores de carros elétricos. O mesmo ocorre com turbinas eólicas, que utilizam ímãs de alta potência para gerar energia renovável em larga escala.
A indústria de semicondutores e de smartphones também acompanha de perto a disputa. Embora os chips sejam o símbolo da liderança tecnológica, a base da produção de dispositivos ainda integra componentes magnéticos feitos de neodímio e outros minerais críticos.
Para os Estados Unidos, um salto tarifário encareceria a cadeia produtiva, aumentando a dependência de importações de países aliados como Austrália e Brasil. Ainda assim, o gargalo persiste: a China domina o processamento, etapa decisiva que limita alternativas no curto prazo.
Críticas internas e receio de aliados
Nos bastidores de Washington, aliados de Trump demonstram preocupação com os efeitos de medidas tão drásticas. A imposição de novas barreiras pode pressionar a indústria 4.0 e, em vez de reduzir, ampliar o déficit comercial dos EUA.
Fabricantes de veículos e empresas de energia renovável já alertaram para riscos de aumento de preços e atrasos em projetos estratégicos. O temor é que a escalada tarifária comprometa investimentos planejados justamente quando os EUA buscam consolidar sua liderança tecnológica.
Brasil e Austrália como peças secundárias
O Brasil aparece como potencial fornecedor alternativo de terras raras, com reservas expressivas no Sudeste e Nordeste, mas sem infraestrutura de processamento em escala global. A Austrália, parceira tradicional dos EUA, também tenta ampliar sua participação, embora enfrente desafios logísticos e de custos.
Especialistas avaliam que, se Trump concretizar a tarifa de 200%, Pequim poderá retaliar ampliando restrições a minerais críticos, deslocando parte da demanda para produtores emergentes. Ainda assim, sem uma cadeia industrial robusta, Brasil e Austrália dificilmente terão condições de substituir a China.
O que esperar dos próximos meses
A escalada em torno dos ímãs mostra como a disputa comercial EUA-China se entrelaça cada vez mais com a corrida por liderança tecnológica e energética. O confronto já não se limita a setores como aço ou soja, atingindo diretamente a espinha dorsal da economia verde.
Caso a tarifa de 200% seja confirmada, pode inaugurar uma nova etapa da guerra comercial, com impacto sobre mobilidade elétrica, energia renovável e semicondutores. Ao mesmo tempo, pressiona países como o Brasil a acelerar sua política de exploração de minerais críticos, sob risco de permanecer apenas como fornecedor bruto em um jogo dominado pela capacidade de processamento da China.
O desfecho deve ser acompanhado de perto por governos e investidores. Em um mundo onde terras raras se tornaram tão estratégicas quanto o petróleo, as tarifas de Trump sobre ímãs da China tendem a moldar não apenas a geopolítica comercial, mas também o futuro da mobilidade elétrica e da energia renovável.









