Em oitiva como testemunha na CPMI do INSS, transmitida pela TV Senado nesta segunda-feira (01/09), o advogado Eli Cohen detalhou uma fraude no INSS que, segundo ele, começou em 2005. O esquema envolvia descontos não autorizados em benefícios de aposentados e pensionistas, executados por associações de fachada ligadas ao empresário Maurício Camisotti e ao lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, o “careca do INSS”.
Cohen descreveu a rede como uma “organização criminosa empresarial” cujo objetivo era arrecadar bilhões e ampliar influência no Congresso Nacional e junto ao próprio INSS.
Associações e cifras bilionárias citadas na fraude do INSS
Segundo o advogado Eli Cohen, a fraude investigada pela CPMI do INSS teve como base a Ambec, a Unsbras e a Cebap.
Ele explicou que a Ambec chegou a ultrapassar 500 mil associados e arrecadava cerca de R$ 20 milhões por mês em descontos ilegais. Em 2024, a Cebap partiu de zero para 344 mil associados, atingindo 400 mil filiados em 2025, com arrecadação mensal próxima a R$ 15 milhões.
De acordo com o advogado:
“Essas três associações, juntas, movimentaram cerca de R$ 1 bilhão e fraudaram quase 1 milhão de aposentados e pensionistas.”
Ele acusou ainda a Contag e a Cobap de conivência com os descontos.
Instituições financeiras mencionadas na CPMI do INSS
Sob juramento, o advogado declarou à CPMI do INSS que, em sua avaliação, o Banco BMG seria o “campeão das fraudes” no consignado:
“O Banco BMG só existe, só saiu de quatro agências para ter o que é hoje por conta do consignado das fraudes. E isso começou em 2005.”
Ele acrescentou:“Quando lidamos com empréstimo consignado, vem a relação de bancos que sabem que estão cometendo o crime e que fazem esses empréstimos de várias formas de fraude.”
Ainda segundo o advogado Eli Cohen, o Banco Master fazia parte do núcleo de operações, assim como a PicPay, do grupo JBS:
“Certamente Banco Master, Banco BMG — campeão — e agora o PicPay estão entre os principais operadores desse esquema.”
Cohen mencionou também movimentações em uma agência do Bradesco, em São Paulo, que, de acordo com ele, “canalizava recursos da Anbec”.
O depoimento completo com essas declarações está disponível na transmissão oficial da TV Senado:
Executivo do mercado financeiro citado pelo advogado
O advogado Eli Cohen citou ainda o executivo Márcio Alaor, associando-o ao funcionamento do esquema de consignados. Segundo ele, Alaor teria atuado em cargos estratégicos no Banco BMG, no Banco Master e, atualmente, no PicPay, ligado ao grupo JBS.
Durante a oitiva, Cohen mencionou que Alaor ganhou no mercado o apelido de “papa do consignado”, em referência à sua longa atuação no setor.
Histórico: em 26 de novembro de 2020, o conselho de administração do Banco BMG ratificou o afastamento temporário de Márcio Alaor do cargo de vice-presidente, após decisão judicial. Naquele período, ele e o banco figuraram como alvos da Operação Descarte, investigação que apurava suspeitas de irregularidades.
Em 14 de fevereiro de 2021, o Banco BMG (BMGB4) informou que o Tribunal Regional Federal havia suspendido a decisão de afastamento. Apesar disso, Márcio Alaor optou por renunciar ao cargo de vice-presidente, justificando a medida como forma de colaborar com a transparência das apurações internas. Na sequência, ele assumiu função na BMG Participações S.A., em Belo Horizonte.
Sindicatos e o pacote de benefícios
O advogado Eli Cohen relatou que, após o fim da contribuição sindical obrigatória em 2016, sindicatos criaram uma nova modalidade de receita: o “pacote de benefícios”.
“Todos os produtos eram débitos consignados. Um deles era o empréstimo consignado. O outro, o pacote de benefícios, criado como alternativa de receita para sindicatos.”
Para Cohen, sindicatos foram “a escola desse crime de benefícios”
Reação do Congresso e pedidos de prisão
As denúncias apresentadas na CPMI do INSS provocaram reação imediata no colegiado. O relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), pediu que o colegiado solicitasse ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Ministério da Justiça a decretação de prisão preventiva dos principais envolvidos.
“Temos indícios suficientes de autoria e provas da materialidade dos crimes. São os personagens principais de uma organização criminosa.”
O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), concordou e defendeu o bloqueio dos bens das entidades.
“Já passou da hora de pedirmos à Justiça que coloque na cadeia os principais envolvidos.”
Histórico da investigação e suspeitas políticas
O advogado Eli Cohen contou que protocolou uma notícia-crime no DEIC de São Paulo em abril de 2023. Após dois meses sem avanços, decidiu entregar os documentos à imprensa, que publicou as primeiras reportagens sobre o escândalo.
Ele afirmou que empresários da Total Health (THG) organizaram festas com participação de parlamentares, apontando suspeitas de suporte político no Legislativo, Executivo e Judiciário, mas frisou:
“Tenho suspeitas, mas não provas documentais desse apoio.”
Ameaças e proteção ao advogado Eli Cohen
Durante o depoimento na CPMI do INSS, Eli Cohen disse que passou a receber ameaças anônimas após expor o esquema. O relator pediu então proteção imediata da Polícia Federal, medida confirmada pelo presidente Carlos Viana.
O senador Carlos Viana anunciou que a comissão passará a se reunir três vezes por semana e que solicitará registros de visitas do careca do INSS ao Congresso.









