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As exportações brasileiras não dependem somente dos EUA”, avalia Geldo Machado

As exportações brasileiras enfrentam um momento decisivo com as novas tarifas dos EUA. Geldo Machado, presidente do grupo ValorizeCred, destaca que a dependência do Brasil em relação aos EUA é limitada, e a diversificação para mercados como China e Índia é essencial. Ele alerta sobre os riscos para investidores e a necessidade de uma estratégia de longo prazo para garantir a competitividade. Descubra mais sobre as oportunidades e o futuro das exportações brasileiras.
Geldo Machado analisa exportações brasileiras
Geldo Machado analisa os efeitos das tarifas dos EUA e reforça que as exportações brasileiras não dependem somente do mercado norte-americano.

As exportações brasileiras atravessam um momento de reajuste após as novas tarifas de 50% impostas pelo presidente Donald Trump. Em entrevista exclusiva ao Economic News Brasil, Geldo Machado, presidente do grupo ValorizeCred e do Sinfac (Ceará, Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte), analisa o cenário atual. Para ele, o tarifaço evidenciou a vulnerabilidade das relações comerciais com os EUA e reforçou a urgência da diversificação de rotas, com maior foco em mercados como China, Índia, México, Japão e outros parceiros estratégicos.

A guerra tarifária global de Trump

ENB: O senhor classifica as medidas do presidente Donald Trump como uma “guerra fria tarifária” global. Por quê?

Geldo Machado: “Trump abriu uma disputa que vai além da China. Ele elevou tarifas contra a União Europeia, Canadá, Japão e também contra o Brasil, mesmo com superávit norte-americano na balança comercial. É uma decisão sem justificativa, baseada em uma lei de 1900, que não se aplica ao contexto atual. Esse artifício pode ser questionado na Suprema Corte. Trata-se de uma estratégia de confronto permanente que gera incerteza e atinge parceiros históricos.”

O debate sobre um “novo Bretton Woods”

ENB: Alguns analistas falam em um “novo Bretton Woods”. O que isso significa hoje e é viável?

Geldo Machado: “O acordo de 1944 fixou o dólar como referência global, atrelado ao ouro, e trouxe estabilidade após a guerra. Hoje, discute-se algo semelhante porque medidas intempestivas de Trump expõem fragilidades do sistema. No entanto, não é simples substituir o dólar. Ele ainda é a moeda de maior liquidez e confiança no mundo. O BRICS debate o uso de outras moedas, mas isso não acontece da noite para o dia. O espaço existe, mas o processo seria longo e repleto de obstáculos políticos e técnicos.”

A “novela” das tarifas

ENB: O senhor já chamou esse processo de “novela tarifária”. Por que esse termo?

Geldo Machado: “Porque é uma sequência sem fim de capítulos. Tivemos tarifas sobre aço, depois sobre produtos agrícolas e, mais recentemente, restrições aos chips e semicondutores. É um sobe e desce que mantém governos e empresas em constante tensão. Para o Brasil, isso significa rever contratos, ajustar rotas e planejar sob permanente incerteza. É uma novela que afeta diretamente o comércio global.”

Setores mais afetados nas exportações brasileiras

ENB: Quais setores das exportações brasileiras estão mais vulneráveis a esse ambiente?

Geldo Machado: “Os mais expostos são os de commodities e alimentos. A madeira já sente pressão, com empresas sinalizando cortes. A siderurgia enfrenta concorrência desigual e tarifas mais pesadas. Carnes, café, soja, frutas e pescados também sofrem porque dependem de previsibilidade e contratos longos. Além disso, tivemos casos emblemáticos, como o da Paraipaba Agroindustrial, no Ceará, que suspendeu embarques de mais de 1 milhão de litros de água de coco após a imposição de tarifa de 50% pelos EUA. Como o produto não entrou nas exceções, a empresa ficou diretamente exposta. Isso mostra como medidas unilaterais atingem cadeias produtivas regionais e geram impacto imediato sobre renda e empregos.”

China amplia espaço nas exportações brasileiras

ENB: A China tem aumentado suas compras do Brasil. Como o senhor interpreta esse movimento?

Geldo Machado: “É uma reação política e estratégica. Se os EUA fecham a porta, Pequim abre um portão. É também um gesto de revanche: ‘se vocês não compram, nós compramos’. Isso ficou claro no café, quando 183 empresas brasileiras foram autorizadas a exportar para o mercado chinês. A China demonstra que pode assumir o espaço dos EUA como destino prioritário dos nossos produtos e reforça sua posição de protagonista no comércio mundial.”

Diversificação e novos mercados para as exportações brasileiras

ENB: O Brasil busca parceiros como Índia, México e Japão. Esse redirecionamento é suficiente?

Geldo Machado: “É um passo essencial. Apenas 12% das exportações brasileiras vão para os EUA, contra quase 30% destinadas à China. Isso já mostra que nossa dependência é limitada. Índia, México e Japão estão entre os mercados que mais crescem. Todos valorizam produtos de qualidade, como carnes, pescados, frutas e café. No caso do café, os chineses ainda consomem pouco, mas podem ampliar rapidamente, sobretudo com a expansão de cafeterias, como ocorreu nos EUA. Esse movimento pode criar até novos segmentos de negócios. Por isso, diversificar é não só possível, mas necessário.”

Riscos para investidores brasileiros

ENB: Que riscos esse cenário representa para os investidores?

Geldo Machado: “O primeiro é a instabilidade cambial. O sobe e desce do real frente ao dólar afeta a bolsa, o crédito e a rentabilidade das exportadoras. Outro risco é a perda de competitividade das pequenas e médias empresas, que não têm instrumentos de proteção financeira. Existe ainda o perigo de superoferta no mercado interno caso parte das exportações não encontre saída, o que pressiona preços e margens. Investidores podem buscar proteção em moedas fortes como dólar, euro ou ouro, e em commodities globais como soja, minério e petróleo. Ainda assim, a volatilidade segue como o maior fantasma.”

Impactos imediatos e ajustes

ENB: Já é possível medir o impacto real das tarifas nas exportações brasileiras?

Geldo Machado: “Ainda não. As tarifas começaram em agosto, e os dados da balança de setembro trarão os primeiros números. O que vimos até agora foi um impacto psicológico: a mídia criou alvoroço, empresas ficaram apreensivas e houve ajustes emergenciais. Alguns setores, como o madeireiro, já sinalizaram cortes e dificuldades. Mas o efeito concreto só aparecerá nos próximos meses. As exportações brasileiras estão se ajustando, e a diplomacia busca reduzir os danos.”

O papel do governo brasileiro

ENB: O governo lançou um pacote de apoio às exportações brasileiras. Essa medida é suficiente?

Geldo Machado: “É uma ajuda necessária, especialmente em crédito e financiamento, mas não resolve o problema estrutural. O fundamental é abrir novos mercados e avançar em acordos comerciais. Sem isso, continuaremos expostos a decisões unilaterais. O pacote alivia pressões de curto prazo, mas a verdadeira segurança virá de uma estratégia de longo prazo, baseada em diplomacia econômica e diversificação. Somente assim as exportações brasileiras estarão menos vulneráveis a medidas políticas externas.”

O futuro das exportações brasileiras e a busca por novos mercados

A análise de Geldo Machado reforça que, apesar das tarifas impostas por Donald Trump, as exportações brasileiras deve ser negociadas de forma estratégica para novos mercados. Exemplos como China, Índia, México e Japão demonstram interesse crescente pelos produtos nacionais, o que reduz a dependência em relação aos Estados Unidos. Nesse cenário, abre-se espaço para diversificação, enquanto o governo busca apoiar as empresas exportadoras.

O grande desafio está em acelerar esse redirecionamento por meio de acordos comerciais e transformar a crise em oportunidade, consolidando o Brasil como fornecedor global estratégico, menos vulnerável a choques e menos exposto a chantagens externas.

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