O mercado imobiliário português registrou entre abril e junho de 2025 a venda de 42,9 mil imóveis, um crescimento de 15,5% em relação ao ano anterior, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), órgão oficial que produz os principais indicadores econômicos do país. Essa procura intensa, em meio a uma oferta limitada, provocou uma escalada inédita: os preços subiram 17,2% no período, o maior aumento já registado desde o início da série estatística.
Preços recordes marcam o mercado imobiliário português
Essa disparada nos preços não se limita ao comparativo anual. Na variação trimestral, os imóveis ficaram 4,7% mais caros, com destaque para os usados, que avançaram 5,1%, superando os novos (+3,8%).
No acumulado de 12 meses, a diferença também foi clara: imóveis usados valorizaram 18,3%, enquanto os novos tiveram alta de 14,5%.
O índice médio anual chegou a 13,8%, acelerando em relação ao trimestre anterior. Segundo o INE, trata-se da variação mais expressiva já registada no mercado imobiliário português. Esse ritmo pressiona especialmente os jovens compradores, mesmo com benefícios fiscais e garantias públicas concedidos pelo governo português para facilitar o acesso ao crédito.
Além dos valores de venda dos imóveis, o preço dos aluguéis em Portugal também sobe no mesmo ritmo.
Famílias impulsionam compras no mercado imobiliário português
O volume financeiro das transações também chamou atenção.
- Entre abril e junho, as vendas movimentaram €10,3 bilhões, alta de 30,4% em relação ao mesmo período de 2024.
- Famílias portuguesas responderam pela maior fatia, adquirindo 37,7 mil imóveis (87,9% do total), com investimento de €8,9 bilhões.
Detalhando o perfil das transações:
- Imóveis usados: 34,6 mil unidades vendidas (+16,7% a/a), movimentando €7,6 bilhões (+33,6%).
- Imóveis novos: 8,3 mil unidades (+10,9% a/a), com volume de €2,6 bilhões (+22%).
Queda de estrangeiros contrasta com alta no mercado imobiliário português
O mesmo trimestre revelou uma mudança no perfil da procura. Enquanto famílias residentes em Portugal ampliaram a participação (+17,7%), os estrangeiros reduziram a presença no setor. Entre abril e junho, apenas 2,1 mil imóveis foram adquiridos por compradores de fora do país, queda de 14,5% em relação a 2024.
Os dados do INE detalham o recuo:
- Compradores de fora da União Europeia: -18,6% (995 imóveis).
- Compradores da União Europeia: -10,5% (1.112 imóveis).
Lisboa lidera em valor e Norte em volume. Confira regiões portuguesas:
A distribuição regional reforça como o mercado imobiliário português se comporta de maneira desigual, com diferenças entre volume de imóveis vendidos e valor financeiro movimentado. Enquanto o Norte aparece como líder em número de transações, Lisboa concentra os preços mais altos, e o Centro mantém um peso intermediário. Outras regiões — Alentejo, Algarve, Açores e Madeira — também entram no mapa, mas com participação mais limitada.
Dados regionais do mercado imobiliário português no 2º trimestre de 2025:
- Norte: 12,9 mil imóveis vendidos (30,2% do total), movimentando €2,7 bilhões. A região inclui distritos como Porto, Braga, Vila Real, Bragança, Viana do Castelo e Aveiro.
- Área Metropolitana de Lisboa: 8,2 mil imóveis (19,1% do total), mas liderando em valor: mais de €3 bilhões, 30,7% do consolidado nacional.
- Centro: 15,9% das vendas, reunindo distritos como Coimbra, Leiria, Viseu, Castelo Branco e parte de Santarém, com destaque para cidades médias.
- Alentejo: participação menor, em linha com perfil rural e baixa densidade populacional.
- Algarve: presença ligada ao turismo e segundas residências, relevante para estrangeiros.
- Açores e Madeira: volumes reduzidos, mas com importância para o contexto insular e turístico.
O que isso significa para o investidor brasileiro
Para o investidor brasileiro, o mercado imobiliário português já não é o mesmo da década passada. Antes, programas como os vistos gold e regimes fiscais especiais tornavam o país um destino preferencial para diversificação patrimonial. Agora, com essas vantagens reduzidas, a lógica de retorno precisa ser repensada.
Os números mostram que a valorização ainda é robusta — 17,2% em 12 meses —, mas ela está sendo impulsionada sobretudo pela procura doméstica. Isso significa que o investidor que busca liquidez rápida pode enfrentar mais dificuldades.
Por outro lado, para quem pensa no longo prazo, Lisboa e Porto continuam sendo mercados estratégicos. Imóveis novos e de padrão elevado nessas cidades seguem valorizados e funcionam como proteção patrimonial contra a inflação, atraindo compradores de alto poder aquisitivo e oferecendo estabilidade.
Caminhos futuros para o mercado imobiliário português
O balanço do trimestre apresentado pelo INE revela um setor sob forte pressão. De um lado, políticas de incentivo e crédito habitacional menos oneroso estimulam famílias a comprar. Do outro, a oferta insuficiente mantém os preços em escalada, reduzindo a acessibilidade para a classe média.
A queda da procura estrangeira pode reduzir pressões especulativas em regiões turísticas, mas não resolve a raiz do problema: a baixa oferta de imóveis novos. Se a procura interna continua crescendo sem resposta adequada do setor da construção, o mercado imobiliário português seguirá pressionado, com preços elevados e desafios crescentes de acessibilidade.