As empresas brasileiras estão sob escrutínio após a Fitch Ratings, uma das três maiores agências de classificação de risco do mundo, alertar, na segunda-feira (07/10), para o aumento dos riscos de liquidez no Brasil. O relatório da agência indica que companhias com necessidades de refinanciamento e acesso limitado aos mercados internacionais podem sofrer, nos próximos meses, com condições de crédito mais restritas.
Riscos de liquidez no Brasil atingem Ambipar, Braskem e Banco Master
Três grandes grupos corporativos foram citados entre os casos mais emblemáticos. A Ambipar (AMBP3) teve seus ratings rebaixados para C/C(bra) em 25/09, após entrar em um processo judicial para suspender cláusulas contratuais que acelerariam dívidas. No dia seguinte (26/09), a Braskem (BRKM5) — maior petroquímica da América Latina — foi rebaixada para CCC+/CCC+(bra) depois de contratar assessores financeiros para revisar sua estrutura de capital, sinalizando dificuldades de reestruturação.
Enquanto isso, o Banco Master, que teve sua fusão com o Banco de Brasília (BRB) rejeitada pelo Banco Central no início de setembro, voltou ao radar de risco. A instituição, importante no segmento de fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), enfrenta questionamentos sobre captação e estabilidade. Dessa forma, os episódios combinados reacendem o debate sobre a solidez das empresas médias diante dos riscos de liquidez no Brasil.
Empresas com dívidas concentradas ampliam exposição ao risco
A Fitch explica que cerca de 10% da carteira de empresas classificadas no país apresentam maior vulnerabilidade de refinanciamento caso as condições de liquidez se deteriorem. Esses emissores possuem índices caixa/dívida de curto prazo abaixo de 1,0 vez e dívida de curto prazo superior a 30% da dívida total. Ainda que o perfil de vencimento da dívida esteja razoavelmente distribuído, o acesso ao capital a custo competitivo tende a diminuir.
Nesse contexto, a agência destaca que, em períodos de incerteza, o mercado busca emissores de maior qualidade. Assim, companhias com indicadores mais frágeis podem enfrentar condições mais severas, o que reforça a percepção de aumento dos riscos de liquidez no Brasil
Fitch alerta que 10% das companhias podem enfrentar aperto de crédito
O relatório aponta que 23% da dívida local da carteira corporativa vence entre 2025 e 2026, exigindo, portanto, uma postura prudente das companhias. Nos últimos 12 a 18 meses, as condições de liquidez foram favoráveis, e as empresas classificadas chegaram a emitir R$ 39 bilhões no terceiro trimestre de 2025. Contudo, o cenário pode mudar rapidamente se a confiança dos investidores continuar em queda.
Por outro lado, a Fitch ressalta que os riscos de liquidez no Brasil podem se intensificar caso persista a combinação de juros altos e restrições ao mercado de capitais. “Uma queda acentuada no acesso a capital pressionará empresas com necessidades de refinanciamento no curto prazo”, afirmou a agência.
Selic alta e cautela dos investidores reduzem liquidez corporativa
A política monetária continua sendo um obstáculo. A Selic elevada desestimula novas emissões e aumenta o custo do crédito, levando as empresas a cortar dividendos e reduzir investimentos. Mas, apesar do ambiente desafiador, a Fitch prevê fluxo de caixa livre agregado positivo em 2026 e leve recuo na alavancagem líquida medida pelo Ebitda (Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização).
Essas projeções indicam que o risco é mais concentrado no curto prazo. Desde o caso Americanas (AMER3), em janeiro de 2023, o mercado adota postura conservadora. Após aquele episódio, 29 companhias sofreram rebaixamentos, o que reforça o cuidado atual com a exposição financeira.
Perspectivas para o crédito e riscos de liquidez no Brasil
A Fitch acredita que as empresas brasileiras continuarão ajustando suas estratégias de alocação de capital nos próximos trimestres. Apesar dos desafios, políticas conservadoras devem sustentar a liquidez e mitigar pressões de refinanciamento. Considerando isso, para o mercado, o alerta serve como sinal de prudência: o ciclo de crédito pode se manter seletivo, mas não deve evoluir para uma crise sistêmica.
Enfim, com a moderação esperada da Selic em 2026 e o retorno gradual da confiança, a expectativa é de estabilização dos riscos de liquidez no Brasil, desde que as companhias mantenham disciplina financeira e diversificação de fontes de captação.