Mesmo mantida em 15% ao ano, a taxa Selic não tem produzido o impacto esperado sobre a economia brasileira, de acordo com o relatório de estratégia de investimentos de outubro do Banco Inter. Segundo o documento, a política monetária perdeu força devido a falhas nos canais de transmissão e à falta de confiança na meta de inflação.
Em setembro deste ano, o Banco Central (BC) optou por manter a taxa Selic em 15% ao ano mesmo após corte de juros nos EUA.
Por que a Selic de 15% ao ano não surte o efeito esperado
De acordo com o relatório, embora a Selic de 15% ao ano esteja no maior nível em quase 20 anos, o aumento dos juros desde 2022 não conseguiu desacelerar o ritmo de atividade. Em suma, o estudo destaca que três canais principais de transmissão da política monetária estão comprometidos:
- Câmbio: mesmo com juros altos, o real não apresentou valorização frente a outras moedas emergentes. A percepção de risco fiscal reduz o efeito do diferencial de juros sobre o câmbio.
- Riqueza e expectativas: a influência dos juros sobre o consumo das famílias e o preço dos ativos perdeu intensidade, limitando a desaceleração da demanda interna.
- Crédito: embora ainda funcione parcialmente, o crédito segue caro e restrito. Spreads elevados e limitações nos financiamentos direcionados, como o habitacional, restringem a reação esperada da Selic de 15%.
Além desses fatores, o Inter destaca que a credibilidade da meta de inflação de 3% ao ano foi enfraquecida pela desconfiança em relação ao ajuste fiscal. A combinação de incerteza e ruídos políticos reduz a eficácia dos juros elevados.
Para entender melhor o que é a taxa Selic e como ela influencia o crédito, o consumo e a inflação, assista à explicação no vídeo abaixo.
Dados recentes indicam perda de potência monetária
Os dados de 2025 reforçam a análise do banco sobre a Selic de 15% ao ano. A taxa de desemprego, atualmente em 5,6%, segue em baixa. Em contrapartida, o Produto Interno Bruto (PIB) mostra expansão consistente e a inflação permanece acima do centro da meta. Portanto, tais indicadores sugerem que a economia resiste ao aperto monetário.
Ainda, o relatório do Inter compara o impacto de cortes anteriores da Selic. Ele aponta que, em 2012, uma redução de juros teve efeito duas vezes mais forte sobre a atividade do que cortes realizados após 2020. Por isso, o canal de política monetária perdeu potência ao longo do tempo, mesmo com juros mais altos.
Perspectivas e desafios da Selic de 15%
De acordo com o relatório do Inter, a principal saída está na coordenação entre política fiscal e monetária. A instituição defende que apenas um ajuste fiscal crível e uma comunicação mais clara do Banco Central podem restaurar a credibilidade e “desobstruir” os canais de transmissão dos juros.
O relatório ressalta que, sem essas condições, manter a Selic em 15% ao ano pode continuar sendo insuficiente para conter a inflação ou reduzir o consumo. O desafio do Banco Central será calibrar a política monetária em um cenário em que o próprio instrumento, a taxa de juros, vem perdendo eficiência como mecanismo de controle da economia.