A rentabilidade das exportações brasileiras caiu 7,7% em agosto em relação ao mesmo mês de 2024, segundo a Funcex em análise do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-IBRE) divulgada na quarta-feira (15/10). A Funcex é o maior banco de dados do comércio exterior brasileiro.
No acumulado de 2025, o índice ainda mostra leve alta de 0,9%, mas a trajetória é de enfraquecimento da competitividade. A combinação de câmbio valorizado e custos domésticos em alta tem reduzido as margens de lucro dos exportadores.
Desempenho setorial e câmbio pressionam rentabilidade das exportações
A economista Daiane dos Santos, analista de negócios internacionais da Funcex e professora da UERJ, avalia que o cenário tende a piorar até o fim do ano. “Se tudo se mantiver como está, teremos um horizonte desafiador para os exportadores brasileiros”, afirma.
Ainda, a política econômica do governo Donald Trump, com o tarifaço de 50% e a desvalorização do dólar, tem agravado o quadro, ao reduzir os preços médios de embarque e aumentar a incerteza sobre o comércio bilateral. A análise da rentabilidade das exportações revela desafios mesmo após o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) liberar mais de R$ 1,6 bi para exportadores brasileiros para combater o tarifaço.
Nos primeiros oito meses de 2025, o custo de produção subiu 5,9%, enquanto o preço das exportações caiu 2,4%. Os setores mais afetados foram minerais metálicos (-10%), papel e celulose (-9,7%) e pesca e aquicultura (-8,7%).
As principais variações setoriais no comparativo de jan-ago/25 com jan-ago/24 são:
- Minerais metálicos: -10%
- Papel e celulose: -9,7%
- Pesca e aquicultura: -8,7%
- Metalurgia: +6%
- Agropecuária: +2,5%
Custos e câmbio reduzem ganhos
Para Daiane dos Santos, o câmbio valorizado ajuda quem importa insumos, mas limita os ganhos externos. “O ideal é que essa competitividade não dependa do câmbio, mas em determinados segmentos sabemos que não é assim”, diz. O aumento do frete internacional e dos salários também impacta os custos, anulando a vantagem cambial e pressionando a rentabilidade das exportações.
A valorização do real, estimada em 9,4% ante o dólar desde janeiro, enfraquece as receitas em reais. Por isso, o FGV-IBRE alerta que, sem ajustes cambiais e industriais, o país pode perder competitividade mesmo com superávit comercial. Portanto, esses fatores resultaram na queda de 7,7% na rentabilidade das exportações brasileiras.
“O que vemos no curto prazo é a manutenção dessa tendência desvantajosa”, afirma a economista.
Competitividade exportadora em risco
A Funcex projeta que a rentabilidade das exportações pode ficar próxima de zero até o fim de 2025. O recuo dos preços internacionais de commodities e a inflação de serviços devem manter a pressão sobre as margens.
Para o FGV-IBRE, o Brasil precisa acelerar sua política de promoção comercial e internacionalização de empresas para preservar sua competitividade nos próximos anos.