A ruptura comercial entre os Estados Unidos (EUA) e a China voltou ao centro das discussões nesta sexta-feira (17/10), quando a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, alertou que o afastamento entre as duas maiores economias pode reduzir o PIB global em até 7% no longo prazo. A avaliação foi feita em entrevista concedida à Reuters em 17/10.
Okonjo-Iweala afirmou que “qualquer divisão que transforme o mundo em dois blocos comerciais traria perdas profundas, afetando emprego e renda em países emergentes.” Segundo a OMC, as perdas de bem-estar podem atingir dois dígitos nas economias em desenvolvimento, refletindo o encarecimento das cadeias produtivas e o aumento dos custos logísticos.
Risco de retração global causado pela ruptura entre EUA e China
A OMC revisou suas projeções de crescimento do comércio mundial. A estimativa para 2026 caiu de 1,8% para 0,5%, enquanto a de 2025 agora é de 2,4%, indicando um breve alívio antes dos novos choques tarifários.
O governo de Donald Trump anunciou tarifas de 100% sobre importações chinesas a partir de novembro, e a China respondeu com restrições às exportações de terras-raras, minerais vitais para a indústria tecnológica. Assim, a ruptura entre as duas nações avança com medidas comerciais agressivas trocadas entre os EUA e a China.
Em reunião do G20, a diretora-geral destacou que “a estabilidade financeira global não é possível sem estabilidade comercial.” Ela alertou que as novas barreiras ampliam o risco de recessão sincronizada, num contexto em que os mercados ainda não absorveram os efeitos das tarifas anteriores.
Tensões afetam cadeias produtivas
Para analistas, a perda de integração entre cadeias produtivas, resultante da ruptura entre EUA e China, tende a reduzir investimentos e produtividade, além de pressionar os preços globais.
O Brasil e seus parceiros comerciais também devem continuar a sentir os efeitos dessas mudanças. Conforme analisou a Fundação Getúlio Vargas (FGV), as exportações brasileiras aumentaram 7,2% em valor e 9,6% em volume entre setembro de 2024 e 2025. Os efeitos, portanto, podem ser positivos para alguns setores e economias ao mesmo tempo em que afetam outros negativamente.
Em contrapartida, o alerta da OMC ocorre em meio à desaceleração do comércio internacional e ao fortalecimento de políticas industriais domésticas. Economistas apontam que, diante das incertezas geradas pela ruptura EUA-China, empresas têm migrado centros de produção, elevando custos e reduzindo competitividade global.
OMC aposta em diálogo e reformas
Mesmo com o aumento das tensões, 72% do comércio mundial ainda segue as regras da OMC, conforme relatou a diretora-geral da instituição à Reuters. A taxa pode ser vista como sinal de resiliência do sistema multilateral. Ainda, Okonjo-Iweala defende aproveitar a crise para modernizar o órgão e ampliar sua atuação em comércio digital, serviços e economia verde.
Para a dirigente, a ruptura comercial global resutante das tensões entre EUA e China não é inevitável, desde que as potências retomem o diálogo. O desafio, concluiu, será preservar o multilateralismo em um cenário de crescente fragmentação econômica.