A possível redução da tarifa de 18% sobre o etanol americano no Brasil reacendeu o alerta no setor sucroenergético. O tema voltou à pauta após o encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado americano Marco Rubio na última quinta-feira (16/10). Na reunião, o etanol entrou em pauta como possível trunfo americano nas negociações comerciais entre os dois países.
Nas últimas semanas, autoridades do Brasil e dos Estados Unidos têm buscado abertura para renegociar as tarifas impostas por Donald Trump sobre a entrada de produtos brasileiros nos EUA.
Em fevereiro, Donald Trump classificou como “injustiça tarifária” a diferença entre as alíquotas — 2,5% cobrados pelos Estados Unidos contra os 18% impostos pelo Brasil. Para analistas, a revisão poderia beneficiar diretamente os produtores de milho americanos, que enfrentam estoques elevados e dificuldades para exportar após a perda de espaço na China.
Etanol americano no Nordeste é risco para produtores no Brasil
A Datagro Consultoria, ouvida pela Exame, projeta que as exportações dos EUA ao Brasil atinjam 650 milhões de litros de etanol em 2025/26. Trata-se, portanto, de uma alta de 160% ante a safra anterior. A elevação da mistura obrigatória de etanol na gasolina, que passou de 25% para 30% desde agosto, impulsionou o aumento.
Com a tarifa zero, o biocombustível norte-americano pode dominar o Nordeste, onde o custo de produção é mais alto e a oferta limitada. A consultoria alerta que o mercado sucroenergético no Brasil pode ser inundado pelo etanol americano, reduzindo os preços e afetando a renda dos produtores brasileiros.
Competitividade e desafios do setor sucroenergético
Segundo analista do Grupo Potencial consultado pela Exame, os produtores de cana para produção de etanol enfrentam dificuldades para competir com o etanol americano no Brasil. Isso porque o produto dos EUA chega ao Nordeste com um preço 12% a 15% menor por litro, pois a região está mais próxima de Houston, cidade americana que concentra a produção do material.
Por isso, o setor teme que uma mudança tarifária amplie a dependência externa e reduza a competitividade do etanol de cana. O combustível responde por grande parte da matriz de biocombustíveis brasileira.
Caso o acordo avance, o país pode enfrentar um cenário de ajuste de preços e concentração de mercado. Certamente, sera mais um teste para a capacidade do Brasil de equilibrar política comercial e sustentabilidade energética.