O aumento de casais sem filhos no Brasil ganhou força nas últimas duas décadas e começa a remodelar a estrutura econômica do país. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta quarta-feira (05/11), mostram que a parcela de lares formados por casais sem filhos passou de 14,9% em 2000 para 26,9% em 2022, praticamente dobrando em 22 anos. A mudança revela novos padrões de consumo, moradia e comportamento demográfico, com implicações diretas sobre o mercado e a Previdência Social.
Principais dados do IBGE (Censo 2022):
- Casais sem filhos: 14,9% (2000) → 26,9% (2022)
- Casais com filhos: 63,6% (2000) → 45,4% (2022)
- Famílias unipessoais (pessoas que moram sozinhas): 12,2% (2010) → 19,1% (2022)
- Fecundidade média: 1,55 filho por mulher (abaixo do nível de reposição)
- População idosa (60+): 15,6% do total
- Pico populacional previsto: 2041, início de declínio a partir de 2042
Aumento de casais sem filhos impulsiona novos padrões de consumo
A pesquisa Nupcialidade e Família atribui essa mudança à baixa fecundidade, ao envelhecimento da população e à maior inserção feminina no trabalho, fatores que reduzem a formação de lares com filhos e alteram a base produtiva que sustenta o sistema previdenciário.
O avanço das famílias sem filhos reflete-se em mudanças claras nos hábitos de consumo. Setores como mercado pet, viagens, alimentação fora de casa e tecnologia doméstica ampliaram espaço nas cestas de gastos. Segundo o Instituto Pet Brasil, o setor movimentou R$ 75,4 bilhões em 2024, crescimento de mais de 9% em um ano. Paralelamente, a NielsenIQ registra aumento nos gastos com serviços e lazer entre adultos sem dependentes, sobretudo nas faixas urbanas de renda média e alta.
No mercado imobiliário, o impacto é visível. O Secovi-SP aponta recorde de lançamentos de apartamentos de 30 a 60 m², voltados a casais jovens e pessoas que moram sozinhas. Dessa forma, grupo já representa quase um quinto dos domicílios brasileiros. Esse novo padrão pressiona a oferta de moradias compactas e muda o desenho urbano das grandes capitais.
Casais sem descendentes e os efeitos sobre Previdência e trabalho
O crescimento de famílias sem filhos também traz implicações fiscais e previdenciárias. Com menos nascimentos e maior expectativa de vida, o país caminha para uma estrutura etária envelhecida. Projeções do IBGE indicam que, a partir de 2042, o Brasil terá mais idosos que crianças. Portanto, o aumento de casais sem descendentes reduz a base de contribuintes e aumenta a despesa social.
Segundo o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026, a necessidade de financiamento do Regime Geral da Previdência Social (RGPS) deve alcançar R$ 329 bilhões em 2025, o equivalente a 2,6% do PIB, podendo superar 11% até o fim do século.
“Maior participação da mulher no mercado de trabalho, baixas taxas de fecundidade e o envelhecimento da população influenciaram no aumento do percentual de casais sem filhos”, destaca o IBGE.
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Risco fiscal futuro
O crescimento no número de casais sem filhos tende a ampliar a demanda por moradias menores, lazer e tecnologia, enquanto reduz o peso de setores ligados à infância, como educação e vestuário infantil. Para o mercado, essa transição demográfica cria oportunidades de consumo, mas também um desafio fiscal de longo prazo.
Com menos contribuintes e mais aposentados devido ao aumento de famílias sem filhos, o equilíbrio previdenciário dependerá de produtividade e políticas de formalização do emprego. Assim, os dados do IBGE apontam que a economia brasileira enfrenta uma equação inédita: envelhecer rapidamente enquanto diminui sua base familiar tradicional. O resultado pode ser um país com maior renda per capita, porém com risco fiscal crescente e a necessidade de repensar o pacto previdenciário.










