O avanço do trabalho por aplicativo está redesenhando o contorno do desemprego no Brasil, segundo estudo realizado pelo pesquisador Daniel Duque, da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre). O levantamento, publicado na segunda-feira (17/11), afirma que as ocupações mediadas por plataformas digitais funcionam como uma rota de saída para quem estava desempregado, porém essa transição traz desafios de renda, jornada e proteção social.
Segundo o estudo, a expansão desse modelo se dá principalmente em centros urbanos, onde motoristas e entregadores conseguem absorver parte da força de trabalho desocupada, embora nem sempre possuam vínculo formal ou garantias tradicionais. Para esses trabalhadores, o trabalho via plataforma passou a integrar a economia de forma estruturada e não apenas como atividade esporádica. Ainda assim, a remuneração muitas vezes está ligada a maiores volumes de horas trabalhadas e à ausência de benefícios.
Trabalhos por aplicativo e a nova geografia do desemprego
O estudo aponta que a disseminação das ocupações em aplicativos reduz temporariamente o contingente de pessoas declaradas como desempregadas, mas o fenômeno varia muito entre regiões. Nos estados onde a infraestrutura urbana e a demanda por serviços são maiores, a transição ocorre de forma mais dinâmica.
Já em regiões com menor circulação econômica esse efeito é menor, o que gera um mosaico nacional de inserção laboral. Ao mesmo tempo, o perfil dos trabalhadores de aplicativos destaca-se por predominância masculina, faixa etária entre 25 e 39 anos e escolaridade média, o que coloca em foco a transformação dos padrões do desemprego tradicional.
Qualidade de trabalho e desafios
Embora ajude a reduzir o desemprego visível, o estudo da FGV Ibre alerta que o impacto não é equivalente à geração de emprego formal de qualidade. Isso porque o trabalho por aplicativo tende a estar associado a jornadas mais longas, remuneração variável e menor proteção previdenciária ou trabalhista.
Esse cenário coloca em debate não apenas o fim da desocupação, mas também a regressão da estabilidade. Parte dos trabalhadores declara que depende exclusivamente da atividade em plataforma para sua renda, o que limita a diversificação de fontes e torna o vínculo ainda mais frágil.
Próximos passos da inserção digital no mercado de trabalho
No fim das contas, o mercado de trabalho via app demanda revisão das estruturas de política pública e regulação. O trabalho por aplicativo não apenas redefine quem está empregado ou desempregado, mas também qual a intensidade de suas jornadas e renda.
Com a economia enfrentando desafios de produtividade e crescimento, o Brasil precisa ajustar seu arcabouço legal para garantir que esses trabalhadores não fiquem à margem da proteção social. Esse ajuste será central para que a expansão desse tipo de trabalho não se transforme em sinônimo de fragilidade laboral.
Clique aqui e confira o estudo completo publicado no blog do FGV Ibre











