O yuan digital, oficialmente chamado de e-CNY, é a versão eletrônica da moeda chinesa emitida diretamente pelo Banco Popular da China (PBOC). Criado em 2020, o instrumento voltou ao foco do debate econômico após Pequim anunciar, nesta segunda-feira (29/01), um plano para ampliar seus incentivos a partir de 2026, incluindo o pagamento de juros sobre os saldos mantidos na moeda.
Diferentemente de iniciativas privadas de pagamento, o yuan digital não é apenas uma interface tecnológica. Ele representa a própria moeda soberana em formato eletrônico, com valor equivalente ao do yuan físico e regras definidas pelo banco central. A estratégia faz parte de um projeto mais amplo de reorganização do sistema monetário chinês, no qual o Estado busca reforçar seu papel nos pagamentos digitais.
Como funciona o yuan digital criado pelo Banco Central da China
Na prática, o yuan digital opera por meio de carteiras digitais autorizadas, que permitem transferências instantâneas entre pessoas, empresas e o setor público. Um diferencial é a possibilidade de pagamentos offline, sem conexão contínua à internet, algo relevante para regiões menos digitalizadas.
A liquidação das transações ocorre diretamente no balanço do banco central, reduzindo a necessidade de intermediários financeiros tradicionais. Ainda assim, bancos comerciais participam da distribuição da moeda e da gestão das carteiras, o que mantém parte da estrutura bancária integrada ao sistema.
Plataformas como Alipay e WeChat Pay continuam dominando a experiência do usuário, mas atuam como interfaces. Por sua vez, o yuan digital,funciona como a base monetária da transação, o que reforça o controle estatal sobre o fluxo financeiro.
Novo plano da China para ampliar a adoção da moeda digital
O plano de ação anunciado pelo governo chinês estabelece novas diretrizes para o desenvolvimento do ecossistema do e-CNY a partir de 2026. O ponto central é a decisão de remunerar os saldos mantidos na moeda digital, com juros atrelados às taxas de depósitos à vista.
Segundo a emissora estatal CCTV, a medida busca estimular o uso cotidiano do yuan digital por consumidores e empresas. Portanto, ao oferecer retorno financeiro, o e-CNY passa a se aproximar de um depósito eletrônico estatal, deixando de atuar apenas como meio de pagamento.
Estudos do Banco de Compensações Internacionais (BIS) indicam que a maioria dos bancos centrais evita remunerar moedas digitais soberanas para não provocar migração de depósitos do sistema bancário tradicional. A escolha chinesa, portanto, coloca o país em uma posição distinta no debate global sobre moedas digitais.
Yuan digital é uma criptomoeda?
Apesar de utilizar tecnologia digital, o yuan digital não é uma criptomoeda. Ao contrário de ativos como bitcoin ou ethereum, o e-CNY não é descentralizado, não depende de mineração e não opera em redes públicas sem controle institucional. Portanto, sua emissão e circulação são integralmente controladas pelo banco central chinês.
Além disso, o yuan digital não foi concebido como ativo de investimento especulativo. Ele funciona como meio de pagamento oficial, com paridade fixa em relação à moeda física. A rastreabilidade das transações, mantida pelas autoridades, também o diferencia das criptomoedas privadas, que operam com maior grau de anonimato.
Esse desenho reflete a postura regulatória da China, que mantém repressão rigorosa sobre criptomoedas e stablecoins privadas, enquanto promove o e-CNY como alternativa oficial, regulada e integrada à política monetária.
Veja a diferença entre o Yuan Digital e principal criptomoeda em atividade, o Bitcoin
Moeda digital chinesa e o experimento sobre uso do dinheiro físico
O avanço do yuan digital transforma a China no principal laboratório mundial de uma moeda digital soberana em larga escala. Com opções de crédito e pagamento cada vez mais voltadas para transações digitais, o recurso e as medidas também põem em vista um cenário em que o “dinheiro vivo” perderá espaço para ativos digitais. Algo que, mesmo no Brasil, já é observado sobre certo ponto. À medida que métodos de pagamento via débito e PIX , cada vez mais, trocam cédulas e moedas por cartões de crédito e aparelhos celulares.











