A crise da infraestrutura no Brasil alcançou níveis inéditos, expondo falhas de planejamento e a incapacidade de manter ativos físicos essenciais. Obras paralisadas, falta de recursos e perda de expertise empresarial desenham um cenário que ameaça diretamente saúde, educação, moradia e transportes.
O encolhimento dos investimentos públicos é constante desde 2015, e os níveis atuais remontam a 2003. Nesse ambiente, cerca de 9.000 obras estão paradas, somando R$ 27 bilhões comprometidos sem retorno efetivo à sociedade. Além do desperdício imediato, a interrupção cria passivos adicionais: deterioração física, custos extras para retomada e litígios contratuais.
Crise da infraestrutura no Brasil e o impacto empresarial
O enfraquecimento do setor afastou empresas com alta capacidade técnica. Das 20 maiores construtoras listadas em 2013, apenas 7 permanecem hoje ativas nesse grupo. O déficit de obras públicas impacta diretamente a cadeia da construção pesada, comprometendo empregos, competitividade e inovação.
Enquanto isso, governos tentam compensar a escassez de recursos por meio de concessões e parcerias público-privadas (PPPs). No entanto, a insistência em tarifas artificialmente baixas inviabiliza a sustentabilidade dos contratos. A crise econômica, marcada por baixo crescimento, juros elevados, inflação e volatilidade cambial, agrava ainda mais a falta de atratividade para o capital privado.
Insegurança jurídica como obstáculo adicional
Sem um planejamento nacional consistente, o setor fica sujeito a decisões políticas fragmentadas. O “Relatório do Gabinete de Transição” é hoje o único documento que apresenta diagnósticos e propostas, mas sua ênfase em revisar modelos de concessões de rodovias e saneamento pode ampliar a já frágil segurança jurídica. Esse ambiente incerto eleva riscos, afugenta investidores e compromete a retomada de obras estratégicas.
A crise da infraestrutura no Brasil não será superada com medidas fragmentadas. A superação exige pacto de lucidez, com investimentos bem planejados, regras estáveis e respeito aos contratos. Somente assim o país poderá recuperar sua capacidade de execução e transformar projetos em prosperidade duradoura.
*Opinião – Artigo Por Dinalvo Diniz, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Ceará (Sinconpe-CE).
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