A disputa pela herança do bilionário construtor Waldomiro Zarzur ganhou uma dimensão internacional com a contratação do ex-diretor antifraude do Departamento de Justiça Americano, Robert Zink. Adele Zarzur, uma das herdeiras, contratou Zink para buscar bens ocultados pelos seus irmãos Roberto e Ricardo, que poderiam estar fora do Brasil.
Adele já havia solicitado a reabertura do inventário do pai, suspeitando que alguns bens não foram listados para distribuição entre os herdeiros. Em julho do ano passado, a juíza Eliane da Camara Leite Ferreira solicitou que Adele apresentasse uma lista de todos os bens que teriam ficado de fora da partilha original. No entanto, Adele argumentou que não teve cooperação de seus irmãos ou instituições financeiras estrangeiras.
Agora, judicialmente, Zink pede acesso a informações da entidade americana CHIPS, uma instituição de serviços financeiros sediada em Nova York, para buscar provas documentais ou testemunhais nos Estados Unidos para uso em ações estrangeiras. Zink também notificou o banco americano JP Morgan pedindo informações sobre contas bancárias dos dois irmãos e de Waldomiro Zarzur, além de documentos que poderiam comprovar comunicação para transferência de ativos.
A herdeira argumenta que necessita de pronto acesso a documentos para detectar potenciais ilícitos cometidos com o uso de sociedades do grupo sediadas no exterior. A disputa pela herança é avaliada em mais de R$ 5 bilhões.
Waldomiro Zarzur
O empresário era casado e pai de quatro filhos, tornando-se um pioneiro engenheiro, incorporador e construtor. Ele revolucionou o mercado imobiliário ao lançar unidades habitacionais para a classe média com financiamentos a longo prazo, muito antes do surgimento do Banco Nacional da Habitação (BNH) ou do Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
Sua carreira começou aos 21 anos, enquanto estudava Engenharia no Mackenzie. Sua amizade com Aron Kogan, também estudante, evoluiu para uma parceria que durou até 1960, quando Kogan foi assassinado e Waldomiro assumiu a empresa.
A empresa de Zarzur foi responsável por diversas obras icônicas, como o edifício Palácio Zarzur & Kogan (atual Edifício W Zarzur), os residenciais Mercúrio e São Vito, que inovaram em imóveis para investimento, além da instalação do Monumento a Duque de Caxias, na Praça Princesa Isabel, obra do escultor Victor Brecheret. A inauguração do monumento de 40 metros de altura ocorreu no dia 25 de agosto de 1960, Dia do Soldado.
Atualmente, o grupo W Zarzur possui cerca de 700 funcionários. Ao falecer em 2013, Waldomiro deixou um vasto patrimônio, incluindo usinas hidrelétricas, prédios comerciais, fazendas e hotéis, como o WZ, na esquina da Alameda Lorena com a Avenida Rebouças, e o edifício mais alto do centro de São Paulo, o Mirante do Vale.
A contratação de Robert Zink por Adele Zarzur para auxiliar na busca de bens ocultados no exterior é um marco importante na disputa pela herança do bilionário Waldomiro Zarzur. Com a possibilidade de envolvimento de instituições financeiras internacionais e a busca por documentos e provas nos Estados Unidos, o caso ganha um aspecto ainda mais complexo.
O desfecho dessa disputa bilionária entre os herdeiros de Waldomiro Zarzur ainda é incerto, e a investigação de possíveis ilícitos envolvendo sociedades do grupo sediadas no exterior pode trazer à tona mais detalhes sobre o patrimônio e as práticas empresariais do renomado construtor.
Enquanto isso, o legado de Waldomiro Zarzur como pioneiro no mercado imobiliário e construtor de importantes obras em São Paulo permanece como um exemplo de inovação e empreendedorismo. Seu impacto no setor habitacional e na paisagem urbana da cidade é inegável e continuará a ser lembrado independentemente do resultado dessa disputa pela herança.