Dez anos após a morte do fundador da Casas Bahia (BHIA3), Samuel Klein, seus três filhos ainda travam uma batalha judicial pela divisão da herança. O processo de inventário, que envolve Michael, Saul e Eva, permanece estagnado no Superior Tribunal de Justiça (STJ), aguardando uma decisão sobre a inclusão de herdeiros, e está marcado por questionamentos quanto ao valor real do patrimônio deixado pelo “rei do varejo”.
O sigilo judicial do caso foi derrubado por ordem judicial, permitindo que documentos tornassem públicos os desentendimentos entre os irmãos. Saul Klein questiona a conduta do irmão Michael na gestão da Casas Bahia, apontando uma possível subestimação do patrimônio, que seria superior aos R$ 500 milhões inicialmente declarados. A defesa de Saul alega que o valor pode chegar a R$ 3 bilhões. Além disso, há um inquérito investigando suposta falsificação das assinaturas do patriarca em atos societários.
O escritório de defesa de Michael Klein e a Casas Bahia não quiseram comentar sobre o caso, e a defesa de Eva não foi encontrada.
Fundada em 1952, a Casas Bahia se tornou uma das maiores varejistas do Brasil. Em 2009, Samuel vendeu o controle da empresa ao Grupo Pão de Açúcar (GPA, PCAR3), mantendo parte dos imóveis como ativos. Atualmente, a companhia tem um valor de mercado de cerca de R$ 680 milhões.
Após a transação, Michael investiu em concessionárias de luxo, imóveis e galpões logísticos, chegando a entrar no ramo da aviação executiva antes de vender os ativos em 2021. O plano de partilha dos bens de Samuel ainda não foi homologado, pois o STJ precisa decidir se o inventário pode incluir os herdeiros de Moacyr Ramos, suposto filho do patriarca, que morreu em 2021. Ramos não passou por um exame de DNA, e há um pedido de teste genético com materiais de seus descendentes.
Saul Klein contesta a integridade das ações societárias conduzidas por Michael, mencionando mudanças no contrato social antes da morte do pai, que teriam transferido cotas a empresas dos filhos de Michael. Uma perícia foi realizada para verificar a autenticidade das assinaturas nos documentos, e o laudo obtido questiona sua legitimidade. Michael, por sua vez, rebate a perícia, alegando que foi paga pelo irmão.
Segundo os advogados de Saul, se os atos societários forem anulados, mais de R$ 1 bilhão poderia retornar ao patrimônio de Samuel, aumentando o valor a ser dividido entre os herdeiros. Eles argumentam ainda que a riqueza de Samuel teria sido subestimada, dado que ele declarou R$ 2,1 bilhões ao Imposto de Renda em 2009 e doou R$ 883 milhões para cada filho, mas deixou “apenas” R$ 500 milhões ao morrer.
A defesa de Saul alega que há ativos no exterior que poderiam ser adicionados ao inventário, ampliando a herança. Além disso, suspeita de transferências de patrimônio para empresas familiares nos EUA e na Nova Zelândia.
Além do inventário, Michael e Saul enfrentam outra disputa por um empréstimo de R$ 30 milhões. Michael afirma ter oferecido seguro garantia, mas Saul argumenta que o irmão não integralizou o pagamento.
Michael comentou recentemente ao Estadão que não possui controle da Casas Bahia nem assento no conselho de administração, dedicando-se a seus negócios em galpões logísticos e concessionárias de carros. Ele afirmou que atualmente detém menos de 10% da empresa, enquanto seus filhos e irmã possuem participações equivalentes.