O Brasil dos anos 90 enfrentava uma grave crise. Com uma inflação acumulada de quase 5.000% em junho de 1994, cada dia representava uma luta para os consumidores com preços em constante alta. A crise econômica tinha origens na época da Ditadura Militar, com o país lutando contra o endividamento externo e uma inflação que reduzia drasticamente o poder de compra.
Antes do Plano Real, tentativas de controle da inflação, como o congelamento de preços, não tiveram sucesso. Durante esse período, os consumidores enfrentavam a constante escalada dos preços, o que os forçava a adaptar suas compras de maneira frequente. Era comum ir ao mercado com a intenção de comprar apenas o necessário para a semana, já que os preços podiam aumentar do dia pra noite.
Simão Silber, professor da FEAUSP, esclarece que “A inflação eleva os preços rapidamente, mas os salários se ajustam de forma mais lenta.” Esse descompasso afetava principalmente os menos favorecidos.
Implementação do Plano Real

No cenário pré-Plano Real, com recessão e desemprego elevado, as perspectivas eram desfavoráveis. Fernando Henrique Cardoso assumiu o Ministério da Fazenda em maio de 1993, marcando o início da luta contra a hiperinflação. O Plano Real foi estruturado para estabilizar a economia através de ajustes fiscais e monetários.
Vinícius Müller, professor do Insper, comenta: “O Plano Real foi um marco na economia brasileira, iniciando um período de estabilidade que permitiu o crescimento econômico.”
A inflação caiu de 916% em 1994 para 22% em 1995. A URV foi decisiva nesse processo, preparando o terreno para a introdução do real.
Introduzir a nova moeda foi um grande esforço. De março a junho de 1994, o Banco Central e a Casa da Moeda coordenaram a transição do Cruzeiro Real para o Real. A distribuição das novas cédulas e moedas foi planejada para garantir uma mudança suave no meio circulante.
Taxas de juros e economia atual
A manutenção de taxas de juros elevadas para controlar a inflação tem sido um ponto de atenção. Rodolfo Olivo, professor da FIA Business School, observa que “Embora as taxas tenham caído, o Brasil ainda tem uma das maiores taxas de juros reais do mundo.”
Parlamentares que foram contra
Apesar de enfrentar problemas ao longo de sua implementação, o Plano Real representou uma mudança no controle da inflação e na gestão econômica do Brasil. A introdução do plano gerou um amplo debate no Congresso Nacional, refletindo uma mistura de esperança e ceticismo entre os senadores, como evidenciam documentos históricos armazenados no Arquivo do Senado, em Brasília.
Entre o ceticismo da época podemos citar o discurso do senador Henrique Almeida (PFL-AP). “Apesar de todas as expectativas formadas em torno do plano de estabilização econômica, o fato é que o Brasil está no limite de sua resistência. Tudo indica que a adoção da URV não impulsionará o crescimento. Em minha opinião, como todos os outros planos, este é um pacote traumático, causador de incertezas e estimulador de remarcação de preços.”, disse.
Sob o mesmo ponto de vista, o senador Pedro Teixeira (PP-DF) foi ainda mais incisivo em sua crítica ao ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e à abordagem do plano. Seu discurso também preservado nos arquivos aponta: “Abjuro essa política liberalóide, retórica e demagógica do ministro, que é feita de promessas sedimentadas na mitologia de um capitalismo dito democrático, tudo a serviço do sistema financeiro internacional e dos subsistemas dos países submissos a ele, entre os quais estamos nós. Um crime de lesa-pátria a merecer uma CPI! O plano não vai dar certo, senhor Fernando Henrique, e seu sonho será apenas mais um crime que se cometeu contra o povo brasileiro.”
Apesar disso, o Plano Real conseguiu estabelecer-se como um marco na história econômica do Brasil. Até hoje, as pessoas lembram o Plano Real como um período fundamental de mudança, que mantém sua influência sobre as políticas econômicas e monetárias do país.