Desde os primeiros dias de maio, o estado do Rio Grande do Sul enfrenta uma grande perda de colmeias, contabilizando aproximadamente 16,9 mil unidades destruídas devido às enchentes. Segundo um levantamento conduzido pela Federação Agrícola e de Meliponicultura do Rio Grande do Sul em parceria com o Observatório das Abelhas, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Ministério da Agricultura e Pecuária, a região de Palmares do Sul (RS) foi a mais afetada, com mais de duas mil colmeias perdidas.
A coordenadora executiva do Programa Observatório de Abelhas do Brasil, Betina Blochtein, explicou que as águas submergiram ou arrastaram muitas colmeias. “As áreas mais elevadas escorreram água que inundou ou levou embora as colmeias, deixando-as submersas e causando a morte das abelhas”, disse Blochtein.
A bióloga também salientou que as colmeias parcialmente afetadas ou em risco devido à falta de alimento para as abelhas não foram contabilizadas no estudo. “A vegetação foi bastante afetada, deixando as áreas com camadas de lodo e sem flores, o que reduz drasticamente a alimentação disponível para as abelhas”, afirmou.
Quais as consequências da perda de colmeias?
O impacto das enchentes se estende para além das colmeias monitoradas, que incluem apenas as espécies Apis mellifera e as abelhas-sem-ferrão. Blochtein afirma que outras espécies não sociais, que não vivem em colmeias, também sofreram severos impactos e são mais difíceis de monitorar em situações como essa.
Betina Blochtein destacou ainda o papel das abelhas na polinização, essencial para várias culturas agrícolas. De acordo com um relatório da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos e da Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador, 76% das plantas consumidas pelos humanos no Brasil dependem das abelhas para a polinização. A polinização aumenta não só a produtividade dos cultivos, mas também a qualidade dos frutos e sementes, agregando valor ao mercado agrícola.
“A dependência varia entre as culturas; por exemplo, a maçã, que depende em mais de 90% das abelhas. Sem elas, o tamanho e a qualidade das maçãs são afetados significativamente”, explicou a bióloga.
O Rio Grande do Sul é responsável por 45% da produção nacional de maçãs. A produção está concentrada em 14 mil hectares distribuídos por 26 municípios. Essa produção é uma importante fonte de renda para a região.
Além da maçã, a soja também se beneficia da polinização. Embora em menor escala, há um aumento de até 15% no peso dos grãos. Esse aumento se deve à ação das abelhas.
A bióloga Vera Lucia Imperatriz Fonseca, da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em abelhas nativas, ressalta a necessidade de políticas efetivas. Essas políticas devem lidar com as mudanças climáticas e seus efeitos continuados. “A mudança climática é uma realidade constante e o setor agrícola precisa se adaptar para enfrentar esses novos desafios”, concluiu Fonseca. Ela enfatizou a importância de uma abordagem proativa para mitigar os impactos futuros.