A pobreza na Argentina atingiu o seu ponto mais crítico nos últimos 20 anos, com mais de 53% da população vivendo abaixo da linha de pobreza, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec). O impacto mais devastador recai sobre as crianças: duas em cada três crianças argentinas vivem atualmente em condições de pobreza.
Uma crise crescente de pobreza na Argentina
A crise econômica foi agravada durante o governo de Javier Milei, que assumiu a presidência em dezembro de 2023. Nos primeiros seis meses de 2024, mais de 5 milhões de pessoas caíram na pobreza. A situação piorou ainda mais com a desvalorização de mais de 50% do peso argentino e a inflação, que ultrapassa os 200% ao ano.
Os preços dos alimentos básicos aumentaram, o que levou a uma situação crítica em que muitas famílias não conseguem garantir sequer uma refeição por dia. “Às quartas-feiras, quando o refeitório não abre, comemos erva-mate com pão”, relata Rosa, de 57 anos, moradora da região metropolitana de Buenos Aires.
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Crianças desnutridas
O aumento da pobreza na Argentina tem provocado desnutrição severa entre as crianças. Médicos alertam para o reaparecimento de doenças como o escorbuto e problemas neurológicos graves, causados pela falta de nutrientes, como a vitamina B12. “Não comemos mais carne, só macarrão com queijo”, conta Noelia, mãe de três filhos, dependente de um refeitório comunitário.
Norma Piazza, pediatra especializada em nutrição, alerta que a situação alimentar precária está afetando diretamente o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças. Esses jovens, que deveriam representar o futuro do país, sofrem as consequências de uma economia em colapso e de políticas públicas incapazes de resolver a crise.
Futuro incerto
Enquanto o governo de Milei busca justificar as medidas de ajuste fiscal e controle de preços como formas de evitar uma crise inflacionária ainda maior, a população mais vulnerável continua a sofrer. “Não é suficiente”, lamenta Gisela, mãe de cinco filhos, referindo-se aos programas de auxílio do governo, que não cobrem nem metade das necessidades básicas de uma família.









