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Banho de petróleo? Conheça técnica medicinal realizada no Azerbaijão

O jornalista Anton Troianovski, do The New York Times, realizou a técnica durante cobertura da COP29, que debate, entre diversos temas, a extração e o uso de combustíveis fósseis.
Banhos de petróleo no Azerbaijão atraem turistas em busca de saúde e geram debates sobre sustentabilidade na COP29.
(Imagem: Reprodução / Freepik)

A COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, trouxe um cenário inusitado para a discussão sobre mudanças climáticas: um petroestado conhecido não apenas pela exploração de combustíveis fósseis, mas também pela prática singular de banhos terapêuticos de petróleo. Na cidade de Naftalan, a quatro horas da capital, visitantes de países que compunham a antiga União Soviética e regiões vizinhas submergem em petróleo cru, considerado por muitos um tratamento medicinal.

Anton Troianovski, correspondente do The New York Times, decidiu vivenciar o banho de petróleo. “Estava quente e agradavelmente pesado, o que levou o nervosismo a dar lugar ao relaxamento. Cheirava a algo como tinta, borracha ou leite azedo, mas eu me acostumei. Eu me senti encasulado por uma substância crua que ajuda a definir as nossas vidas“, conta ele.

Banhos de petróleo: tradição e promessa de cura

Os banhos de petróleo são uma prática antiga em Naftalan, cidade que explora um tipo de petróleo não inflamável, frequentemente descrito como “medicinal”. A composição química única do óleo, rica em hidrocarbonetos, é apontada como eficaz no tratamento de artrite, psoríase, reumatismo e até infertilidade.

O procedimento consiste na submersão do corpo em banheiras cheias de petróleo aquecido a 40ºC, por até 10 minutos. Apesar de relaxante para muitos, o tratamento levanta preocupações quanto aos efeitos tóxicos de longo prazo. A médica Ayten Magerramova, chefe do resort Garabag, explicou para Anton que “o resíduo acumulado do petróleo é um pouco tóxico, mas é altamente eficaz para problemas de pele“.

Ainda assim, a prática atrai milhares de turistas anualmente, especialmente após 2020, quando a cidade se tornou mais acessível devido a mudanças geopolíticas na região. Damira Vaitsel, visitante do Cazaquistão, relatou alívio para sua psoríase após duas semanas de banhos, “senti-me como uma oligarca na experiência“, explica.

Polêmica e limites no uso de recursos

Enquanto o petróleo de Naftalan é visto como um bálsamo para diversos males, ele é um recurso finito. De acordo com Magerramova, as reservas podem durar apenas mais 60 anos. “Depois disso, não sabemos o que acontecerá“, diz ela.

Zaur Valimatov, médico-chefe de outro resort local, sugere uma abordagem mais sustentável: substituir os banhos integrais por emplastos de petróleo, que utilizam volumes menores e reduzem os riscos de toxicidade. “Mergulhar pessoas em petróleo é um uso um tanto bárbaro“, afirma.

O paradoxo da COP29

A realização da COP29 em um país que depende economicamente do petróleo levanta questões sobre o compromisso global com a transição energética. O Azerbaijão foi um dos pioneiros na exploração petrolífera, com o primeiro poço perfurado industrialmente em 1846. Hoje, Baku ainda abriga torres de petróleo ativas, simbolizando tanto riqueza quanto um desafio ambiental.

Em meio a essas contradições, a conferência discute estratégias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, enquanto os banhos de petróleo em Naftalan se tornam uma metáfora viva das escolhas que a humanidade enfrenta: preservar recursos naturais ou usá-los até o limite.

“Jogue fora, venda. É como se Deus tivesse enviado isso para nós”, comenta Khalid, trabalhador local, sobre o petróleo.

Os banhos de petróleo de Naftalan representam uma tradição terapêutica única, mas também ilustram o paradoxo da dependência global de combustíveis fósseis em tempos de crise climática. A COP29, ao ser sediada no Azerbaijão, coloca em evidência a necessidade de conciliar desenvolvimento econômico e preservação ambiental, em um cenário onde o “ouro negro” ainda dita o ritmo das decisões globais.

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