A “inflação da picanha” se tornou um tema sensível para o bolso dos brasileiros e um ponto de atenção para o governo Lula. O aumento nos preços da carne e de outros alimentos tem desafiado o planejamento familiar e alterado hábitos de consumo, especialmente entre as famílias de baixa renda. Com o fim do ano se aproximando, especialistas apontam que o cenário deve continuar desafiador.
Por que os alimentos estão mais caros?
A alta nos preços dos alimentos, especialmente da carne, reflete uma combinação de fatores climáticos, econômicos e de mercado. Este ano, secas severas atingiram importantes áreas agrícolas e de pecuária no Brasil, como a Amazônia e o Cerrado, reduzindo pastagens e impactando a produção de insumos essenciais, como a soja. Além disso, incêndios em áreas agrícolas agravaram a situação, elevando os custos de produção.
No cenário internacional, a valorização do dólar tornou a carne brasileira mais competitiva para exportação, impulsionando as vendas externas em 30% entre janeiro e outubro deste ano em comparação ao mesmo período de 2023.
Impacto da inflação da picanha no consumo interno
O aumento nos preços da carne não afeta apenas a cesta básica, mas também a inflação geral. Segundo o IBGE, a carne bovina representa uma grande parte da cesta básica em diversas regiões do país. Quando seus preços sobem, as famílias brasileiras precisam ajustar seu consumo, substituindo cortes nobres por opções mais acessíveis ou reduzindo a quantidade.
Além disso, outros alimentos essenciais também sofreram altas. O tomate, por exemplo, subiu 8,15%, enquanto o óleo de soja registrou um aumento de 8,38%. Para as famílias de baixa renda, que destinam a maior parte de seus orçamentos a alimentos e habitação, essas elevações têm um impacto ainda maior. Em outubro, a inflação para essas famílias foi de 4,99%, superior à registrada para os mais ricos (4,44%).
Perspectivas para 2025
Especialistas projetam que os preços da carne continuarão altos até o fim do ano, devido ao aumento sazonal do consumo durante as festas de fim de ano. Entretanto, é possível que haja uma redução nos preços no início de 2025, quando o mercado entra em um período de menor demanda.
Por outro lado, as mudanças climáticas e a volatilidade do dólar continuam sendo fatores de risco para a estabilidade de preços no médio prazo. Mesmo sem a presença de fenômenos como El Niño ou La Niña no próximo ano, o clima imprevisível e os desdobramentos da política econômica global podem manter os preços elevados.
Impactos políticos e sociais
A “inflação da picanha” carrega implicações políticas relevantes. Ao prometer “churrasco de picanha” em sua campanha, o presidente Lula criou expectativas que agora enfrentam a realidade econômica. Com a inflação pressionando os custos de vida, especialmente entre os mais pobres, o governo enfrenta desafios para manter sua popularidade e cumprir suas metas de crescimento econômico.