As fraudes do Careca INSS chamaram a atenção da Polícia Federal após denúncias de descontos indevidos em benefícios de milhares de aposentados. O esquema, revelado por investigações iniciadas em 2023, envolvia o uso de call centers para processar filiações falsas a associações e aplicar mensalidades diretamente na folha do INSS.
Funcionários dos call centers Truetrust e Callvox, ligados ao grupo, recebiam roteiros detalhados para responder às reclamações dos segurados. O padrão era prometer reembolso em 10 dias, prazo que passou para 30 dias sem que os valores fossem devolvidos. Segundo os relatos, aposentados raramente sabiam da filiação ou da cobrança.
Enquanto isso, os call centers promoviam viagens para seus funcionários, com direito a compras, restaurantes e visitas turísticas bancadas por entidades investigadas. Tudo isso em troca da manutenção do atendimento e da manipulação do SAC.
Empresas ligadas ao “Careca” repassavam valores milionários
No centro das fraudes do Careca INSS estão empresas como a Truetrust, formalmente registrada como ACDS Call Center. A sigla seria uma referência aos sócios: Antonio Carlos e Domingos Sávio. Juntos, eles movimentaram milhões em repasses de entidades como a Abrasprev e a CBPA, investigadas por superfaturamento e por enviar dinheiro a dirigentes do INSS.
A PF apura que parte dos pagamentos foi feita ao escritório de advocacia do filho do ex-diretor de Benefícios do INSS, além de transferências para parentes e intermediários. Um dos indícios mais evidentes é a movimentação de R$ 4,8 milhões de uma entidade diretamente para a conta de Domingos Sávio.
Além do uso de dados pessoais sem autorização, as empresas criaram uma estrutura para dificultar o cancelamento das cobranças, que envolvia desinformação, prazos falsos e até a justificativa de que a autorização foi dada por WhatsApp.
Fraudes do Careca INSS, veja no vídeo abaixo onde tudo começou:
Sistema paralelo driblava o controle oficial do INSS
De acordo com a PF, o auge das fraudes do Careca INSS coincidiu com a contratação em massa de atendentes entre novembro e dezembro de 2023. Nessa época, centenas de ligações com queixas de descontos começaram a ser registradas em todo o país.
O esquema ruiu com a Operação Sem Desconto, deflagrada em abril de 2025. As investigações revelaram que os acordos firmados entre o INSS e entidades usavam brechas legais para inserir cobranças sem consentimento claro do beneficiário. Isso levou à queda do então presidente do INSS e do ministro da Previdência.
Apesar de tentativas de reembolso em etapas iniciais, a falta de transparência e a extensão das cobranças colocam o caso entre os maiores escândalos da história recente do instituto.