Diante da ineficiência nas tratativas diplomáticas oficiais para barrar a nova tarifa de 50% anunciada por Donald Trump, a diplomacia corporativa brasileira assume um papel estratégico na tentativa de reverter o cenário. O aumento tarifário entra em vigor em 1º de agosto e ameaça diretamente setores exportadores do Brasil, com impactos significativos sobre empregos, renda e competitividade.
Diplomacia corporativa brasileira busca destaque diante da crise comercial
Segundo o Roberto Uebel, professor do curso de Relações Internacionais da ESPM, a atuação direta de entidades empresariais e setoriais com representantes dos Estados Unidos representa uma janela concreta de oportunidade. Para ele, “a diplomacia corporativa poderá ser um ponto de inflexão nesta conjuntura”, diante da ausência de diálogo efetivo entre os governos. Com base nessa análise, a pressão privada pode construir uma via alternativa para a solução do impasse.
Uebel observa que diversas associações do agronegócio e da indústria já enviaram emissores aos EUA com o objetivo de abrir canais de comunicação com interlocutores norte-americanos. A estratégia, portanto, visa criar um ambiente mais favorável no Capitólio, junto a importadores, empresários e até consumidores americanos, sensibilizados pelos efeitos colaterais da medida.
Como a diplomacia corporativa brasileira já operou em crises anteriores
A diplomacia corporativa brasileira, apesar de agora ganhar mais visibilidade, tem histórico relevante em outros momentos críticos. Em crises comerciais passadas — como as disputas do aço (2002) e do etanol (2010) — foi o setor privado que estabeleceu interlocuções bilaterais, garantindo exceções tarifárias e minimizando prejuízos. Portanto, o sucesso dessas experiências reforça o valor da articulação empresarial em momentos de tensão institucional.
Enquanto isso, o canal tradicional do Itamaraty enfrenta entraves e resistências. Uebel pontua que, “em um contexto de animosidade entre os chefes do Executivo dos dois países”, a via institucional tende a ser menos eficaz. Nesse cenário, é fundamental que as estratégias do setor privado e da diplomacia oficial caminhem de forma coordenada e apartidária, com foco em resultados.
Diplomacia tenta resgatar o diálogo bilateral com os EUA
Para o professor da ESPM, o Brasil precisa comunicar aos EUA que a tarifa rompe um histórico sólido de cooperação econômica.
Segundo ele, “as relações entre os dois países foram construídas com base no respeito mútuo e nas parcerias estratégicas dos diferentes setores, especialmente o produtivo”. Assim, a diplomacia corporativa brasileira tenta resgatar esse diálogo — agora enfraquecido — com pragmatismo e foco no impacto econômico bilateral.