O depoimento de ex-sócio de Nelson Wilians, Fernando Cavalcanti, à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, colhido na tarde de segunda-feira (6) sob condução do deputado Alfredo Gaspar (União-AL), revelou novos detalhes sobre a dívida de Nelson Wilians com o empresário Maurício Camisotti. As informações estão sob análise da Polícia Federal (PF) no contexto da Operação Sem Desconto, que investiga suposto esquema de descontos ilegais em empréstimos consignados de beneficiários do INSS.
Durante o interrogatório, Fernando Cavalcanti afirmou que manteve sociedade com Nelson Wilians em diferentes empresas, incluindo a Valestra Consultoria Empresarial, da qual Wilians deixou a sociedade em 23 de maio de 2025. O empresário explicou que a Valestra atua em consultoria empresarial e registrou faturamento médio de R$ 20 milhões em maio.
Questionado sobre a natureza da empresa, disse que “não realiza lobby em Brasília nem em qualquer outra localidade”.
Depoimento de ex-sócio de Nelson Wilians e as suspeitas da PF
O relator da CPMI concentrou as perguntas nos contratos de empréstimo entre Nelson Wilians e Maurício Camisotti, apontados em relatórios da PF.
Segundo Fernando Cavalcanti, os contratos previam 60 parcelas de R$ 1,088 milhão, atualizadas anualmente pelo CDI, o que totalizaria cerca de R$ 65 milhões. Ele afirmou que não participou diretamente das negociações e que, à época, o escritório “enfrentava dificuldades financeiras e recontratava dívidas para evitar inadimplência”.
O CDI (Certificado de Depósito Interbancário) é uma taxa de referência usada como base de rentabilidade em operações financeiras entre bancos e costuma servir de parâmetro para contratos de crédito e investimentos no Brasil.
O parlamentar questionou a origem dos valores e a eventual relação dos contratos com a compra de um terreno citada em depoimentos anteriores. Cavalcanti respondeu que a operação estava vinculada a garantias reais, mas não confirmou valores. O relator lembrou que Nelson Wilians havia declarado à CPMI que o terreno custou R$ 22 milhões.
“Quem está faltando com a verdade: o senhor ou Nelson Wilians?”, perguntou Gaspar. O empresário respondeu: “Excelência, os contratos estão aí. Só posso falar com base neles.”
Fernando Cavalcanti afirmou que os contratos foram renovados ao longo dos anos, incorporando juros e valores de operações anteriores. Também mencionou que parte das obrigações se relacionava a “juros acumulados e reestruturações financeiras”. Questionado sobre a relação com Maurício Camisotti, afirmou que o conheceu em 2017, manteve contatos sociais e profissionais, mas negou vínculos com contratos ligados ao INSS.
Segundo, no mesmo ano de 2017 seu patrimônio era de cerca de R$ 100 mil, e ele afirmou receber salário de R$ 5 mil na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
📺 Assista à sessão da CPMI na TV Senado:
Dívida de Nelson Wilians com Maurício Camisotti e efeitos na Operação Sem Desconto
Durante a sessão, o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) afirmou que a relação financeira entre Nelson Wilians e Maurício Camisotti é “um dos pontos centrais da investigação da Operação Sem Desconto”.
A Polícia Federal investiga se esses contratos serviram para ocultar a origem de recursos ligados a empréstimos consignados. Os agentes concentram a apuração em eventuais fluxos de capital entre empresas de consultoria e escritórios jurídicos com contratos públicos. Até o momento, não há decisão judicial que comprove irregularidades, e a CPMI segue cruzando documentos e depoimentos para validar os dados financeiros.
Em nota enviada à CPMI, a defesa de Nelson Wilians declarou que “todas as operações financeiras e contratos estão devidamente declarados e documentados”. Em seu depoimento à Comissão o advogado declarou que nada tem haver com a fraude do INSS.
Perspectiva institucional e medidas de compliance
A CPMI estuda novas diligências para rastrear as operações entre os grupos empresariais mencionados. Segundo fontes legislativas ouvidas pelo Economic News Brasil, a comissão deve solicitar a quebra de novos sigilos para reforçar o compartilhamento de dados com a PF e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
O relator Alfredo Gaspar reforçou que “a prioridade é esclarecer a origem dos valores e garantir a integridade dos recursos previdenciários”. A Polícia Federal conduz as etapas da Operação Sem Desconto e deve apresentar o relatório conclusivo à CPMI nas próximas semanas.
O ex-sócio de Nelson Wilians, Fernando Cavalcanti, entregou extratos e documentos à CPMI. Ele permanece no plenário para prestar novos esclarecimentos aos parlamentares, conforme o cronograma de oitivas.