A prisão do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy nesta terça-feira (21/10) tornou o político o primeiro ex-presidente da França preso desde Philippe Pétain, em 1945. A condenação, uma pena de cinco anos de reclusão, representa um marco na história política francesa.
Sarkozy foi condenado à prisão por associação criminosa e financiamento ilegal de campanha com recursos do regime líbio de Muammar Gaddafi. O tribunal destacou a “gravidade excepcional” dos crimes e a existência de uma rede de intermediários que teria captado milhões de euros em 2007 para sustentar sua campanha presidencial.
Sarkozy governou a França entre 2007 e 2012 e sempre negou ter recebido dinheiro de Gaddafi. No entanto, depoimentos e registros financeiros indicaram que seus aliados mais próximos, Brice Hortefeux e Claude Guéant, negociaram diretamente com a inteligência líbia. O tribunal entendeu que, mesmo sem provas de recebimento pessoal, o ex-presidente se beneficiou politicamente dos recursos, violando as normas francesas de transparência eleitoral.
Prisão de Sarkozy e o sistema judicial francês
A Justiça determinou o cumprimento imediato da pena, mesmo com recurso pendente, o que gerou reação da direita francesa. Sarkozy está agora na prisão de La Santé, em Paris, onde cumpre pena em cela isolada de nove metros quadrados. Todavia, seu advogado, Christophe Ingrain, classificou a decisão como “injustificada”, e o próprio ex-presidente afirmou estar sendo vítima de um “escândalo judicial”.
O presidente Emmanuel Macron, no poder desde 2017, afirmou que a execução provisória é um “debate legítimo”, defendendo a independência do Judiciário. Ainda assim, a visita recente de Macron a Sarkozy e a promessa do ministro da Justiça, Gérald Darmanin, de ir à prisão levantaram críticas sobre possível interferência política.
Ecos da prisão e a sombra da Líbia
A prisão de Sarkozy expôs novamente o caso de corrupção internacional que assombra a França há mais de uma década. As investigações sobre o fluxo de dinheiro entre Paris e a Líbia apontam para um esquema de influência que envolveu empresários, intermediários libaneses e figuras do governo líbio.
Embora Sarkozy tenha sido absolvido de receber os valores diretamente, o tribunal entendeu que ele se beneficiou politicamente da operação. Dessa forma, teria violado as regras de transparência e de financiamento eleitoral francesas.
Segundo a empresa francesa de sondagens Elabe, 61% dos franceses consideram “justa” a regra de execução provisória da pena (prisão mesmo com apelação em curso), enquanto 40% dizem estar satisfeitos com a condenação, 21% desagradados e 39% estão indiferentes quanto à prisão de Sarkozy.
Perspectivas para a política francesa
O encarceramento de Sarkozy é mais do que um episódio pessoal: é um teste à credibilidade das instituições francesas diante de crimes de corrupção de alto nível. O caso reforça o compromisso do país com a transparência, mas expõe tensões entre Justiça e poder político.
Aguardando decisão sobre sua liberdade condicional, Sarkozy mantém o discurso de inocência e promete relatar sua versão dos fatos em livro. O gesto ecoa o personagem da obra de Alexandre Dumas que o ex-presidente levou ao cárcere: o Conde de Monte Cristo, homem que luta para provar sua inocência na prisão.