Um novo projeto de IA do Brasil começa a tomar forma com o ConversAI Studio, iniciativa do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) que pretende criar um sistema nacional de inteligência artificial generativa. Em testes desde setembro deste ano (09/2025), a ferramenta busca reduzir a dependência do país de tecnologias estrangeiras, como as desenvolvidas por OpenAI e Google. E, além disso, garantir que dados públicos permaneçam armazenados em território nacional.
Desenhado para uso em órgãos públicos, o ConversAI Studio permitirá a criação de assistentes conversacionais personalizados, treinados com bases de dados oficiais e legislações brasileiras. Cada instituição poderá utilizar a IA do Brasil subindo seus próprios documentos, no intuito de gerar respostas precisas e auditáveis em tempo real.
“É uma solução construída dentro do Serpro e opera no próprio Serviço, o que traz soberania de ponta a ponta”, explicou Carlos Rodrigo Fonseca, gestor do Centro de Excelência de IA do Serpro.
Criação de IA do Brasil fortalece soberania digital
Essa IA do Brasil criada para operar de forma autônoma dentro dos data centers do Serpro, garantindo que nenhuma informação saia do país. “Nada sai do Brasil, nem do Serpro”, afirmou Fonseca. Essa estrutura reflete a busca do governo por soberania digital, conceito que define o controle nacional sobre o ciclo completo de processamento e armazenamento de dados.
Segundo o Serpro, a iniciativa da criação de uma IA própria para o Brasil segue os princípios da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, com foco em segurança, rastreabilidade e transparência. A estratégia busca assegurar que informações estratégicas do Estado não dependam de provedores externos, reduzindo riscos jurídicos e custos de operação.
Como funciona o ConversAI Studio
O ConversAI Studio é uma plataforma que gera informações aos moldes do próprio ChatGPT. Ela adota uma arquitetura em camadas, com modelos de linguagem (LLMs) open source hospedados em servidores próprios, como Gemma (Google), Llama (Meta) e GPT-OSS (OpenAI). A plataforma usa o protocolo Model Context Protocol (MCP), que permite a criação de agentes capazes de executar tarefas automatizadas, como preencher relatórios ou consultar bases normativas.
O sistema emprega a técnica RAG (Retrieval-Augmented Generation), que combina busca documental e geração textual para oferecer respostas precisas e verificáveis. Além de chatbots, a IA do Brasil poderá ser integrada a sistemas públicos via APIs, agilizando fluxos internos e reduzindo etapas burocráticas.
Outros projetos de IA no Brasil
Além do ConversAI Studio, o ecossistema de inteligência artificial nacional cresce com iniciativas de diferentes origens. Startups como Maritaca AI e Amazônia IA desenvolvem modelos de linguagem em português baseados em dados brasileiros. No setor industrial, empresas como Embraer, Tupy e Bosch já utilizam IA em processos de produção, manutenção preditiva e controle de tráfego aéreo.
Além disso, o país também lançou o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA 2024-2028). O plano prevê investimentos de mais de R$ 23 bilhões para infraestrutura, pesquisa e uso ético da IA em setores públicos e privados. O programa é coordenado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e busca consolidar o investimento em programas de IA feitos no Brasil.
Futuro da inteligência artificial brasileira
De acordo com o Serpro, o projeto de uma IA feita 100% no Brasil será expandido progressivamente. Órgãos como a Receita Federal e o Instituto Brasileiro de Gografia e Estatística (IBGE) já participam da fase de testes. Além disso, novas chamadas públicas buscarão parceiros privados para desenvolver um modelo multimodal com mais de 10 bilhões de parâmetros.
O gerente de IA do Serpro, Ronaldo Agra, descreve o sistema como “uma interface no estilo do ChatGPT, só que utilizando os modelos do Serpro e dados armazenados no Serpro”.
A estatal também avalia colaborações com startups nacionais, como Maritaca e Amazônia IA, para ampliar o ecossistema de inovação local.
A consolidação de uma IA do Brasil indica um avanço estratégico. Além disso, criar tecnologia própria, em português e sob controle estatal, é mais do que uma meta técnica. Trata-se de um enorme passo para garantir autonomia digital e inovação pública sustentável nos próximos anos.









