A crise global de chips e semicondutores pode levar à paralisação da produção de veículos no Brasil nas próximas semanas. O alerta foi feito na última semana pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A associação prevê um impacto imediato sobre fábricas e fornecedores de autopeças, caso o fornecimento global de chips não seja restabelecido.
Segundo a entidade, cada automóvel consome entre mil e três mil componentes eletrônicos, tornando o cenário de escassez um risco direto para linhas de montagem.
O governo brasileiro, por meio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), confirmou estar monitorando o problema e negociando alternativas para evitar o colapso. A pasta informou que acompanha os efeitos das interrupções e mantém diálogo com empresas para reduzir os danos a empregos e receitas industriais.
Entenda a crise por trás da falta de chips e semicondutores
A atual crise de chips e semicondutores é resultado de uma combinação de fatores que abalaram a cadeia global de abastecimento. A pandemia de COVID-19 provocou um salto repentino na demanda por dispositivos eletrônicos — notebooks, consoles e servidores — enquanto fábricas automotivas reduziram o ritmo de produção. Além disso, o modelo logístico “just-in-time”, baseado em estoques mínimos, deixou montadoras mais vulneráveis quando os pedidos retornaram em volume elevado.
Nos últimos meses, a situação foi agravada por fatores geopolíticos e comerciais. As tensões entre China e países europeus levaram Pequim a restringir exportações de chips e matérias-primas estratégicas. Além disso, a maior parte da produção mundial está concentrada em poucos fabricantes na Ásia, inclusive o refinamento de terras-raras, essencial para os componentes eletrônicos.
Portanto, qualquer interrupção gera gargalos que afetam em cadeia a indústria global, do setor automotivo à tecnologia da informação.
Crise de chips e semicondutores expõe vulnerabilidade da indústria nacional
De acordo com a Anfavea, a situação atual se assemelha à vivida durante a pandemia, quando fábricas pararam por falta de chips. A diferença agora é a origem do problema: a China restringiu exportações de semicondutores após a Holanda assumir o controle da Nexperia, fabricante europeia com participação estatal chinesa. A medida gerou novos gargalos logísticos e elevou o custo global dos componentes.
O presidente da Anfavea, Igor Calvet, afirmou que o momento exige respostas rápidas e coordenação entre governo e setor produtivo.
“Com 1,3 milhão de empregos em jogo em toda a cadeia automotiva, é fundamental buscar uma solução em um cenário já desafiador, marcado por juros altos e demanda fraca.”
Governo prepara medidas para evitar paralisação industrial
Entre as medidas estudadas pelo Mdic estão acordos logísticos emergenciais, priorização de importações e liberação temporária de estoques estratégicos de chips para o setor automotivo. O objetivo é impedir que montadoras suspendam turnos ou adotem férias coletivas, como ocorreu entre 2020 e 2022.
Além disso, segundo analistas de mercado, a crise que provoca a falta de chips e semicondutores também pode pressionar os preços de veículos e reduzir exportações, ampliando o impacto sobre o PIB industrial. A Anfavea afirma que o risco de paralisação já se tornou real em parte das fábricas europeias, com potencial de atingir o Brasil nas próximas semanas.
Desafio tecnológico e dependência da produção global de chips
A crise de escassez de chips e semicondutores revela uma dependência estrutural da indústria brasileira em relação aos polos asiáticos e europeus. Para especialistas, o episódio reforça a necessidade de política industrial de semicondutores. Algo que reduza a exposição do país a crises externas e estimule investimentos locais em tecnologia.
Caso a crise de semicondutores se prolongue, o Brasil poderá enfrentar retração na produção automotiva e redução na geração de empregos formais no setor. A reação do governo e o ritmo de recomposição da oferta global definirão se o país conseguirá evitar uma nova paralisação industrial. Portanto, em um cenário que volta a testar os limites da competitividade nacional, resta saber para que lado a balança penderá.









