A crise das terras-raras ganhou novo capítulo nesta quinta-feira (09/10). O Ministério do Comércio da China anunciou restrições severas à exportação desses minerais, essenciais para a indústria de semicondutores, energia e defesa. Agora, qualquer produto que contenha mais de 0,1% de materiais de origem chinesa precisará de autorização expressa de Pequim.
A decisão coloca pressão sobre países e empresas dependentes desses insumos, como os Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul. Segundo dados da Agência Internacional de Energia, a China responde por 90% da produção mundial de terras-raras. Esses minerais estão em smartphones, turbinas eólicas, carros elétricos e chips usados em sistemas de inteligência artificial. Nesse contexto, a crise das terras-raras se tornou um novo campo de disputa entre as potências.
Washington reage e busca conter efeitos da crise das terras-raras
O presidente Donald Trump afirmou que o governo norte-americano analisa medidas de resposta. A ação será conduzida pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, e pelo secretário de Comércio, Howard Lutnick. “Importamos volumes massivos da China e talvez tenhamos de parar de fazer isso”, declarou Trump, classificando a crise das terras-raras como uma ameaça direta à segurança nacional.
Nos bastidores, a Casa Branca avalia ampliar tarifas de importação e acelerar a criação de uma cadeia doméstica de terras-raras. Dessa forma, busca reduzir a dependência da produção chinesa. Além disso, especialistas como Dean Ball, da Foundation for American Innovation, alertam que a medida de Pequim pode causar recessão nos EUA se aplicada integralmente. O investimento em IA é um dos pilares do crescimento americano e, portanto, um dos mais vulneráveis à crise das terras-raras.
A disputa tecnológica e seus impactos na economia global
A nova ofensiva de Pequim ocorre às vésperas de uma reunião entre Trump e o presidente Xi Jinping, prevista para as próximas semanas na Coreia do Sul. Para analistas, trata-se de uma jogada geopolítica calculada. O objetivo é forçar concessões dos EUA em tarifas e controles tecnológicos, ampliando a crise das terras-raras para o campo diplomático.
O especialista Dmitri Alperovitch, do Silverado Policy Accelerator, classificou a medida como “chantagem econômica”, voltada a minar a liderança americana em inteligência artificial. Por outro lado, empresas de tecnologia, como fabricantes de chips e painéis solares, projetam atrasos e custos adicionais em suas cadeias produtivas. Nesse cenário, cresce a busca por novas fontes de minerais críticos, principalmente na África, Austrália e América Latina, como forma de escapar dos impactos da crise das terras-raras.
O que são terras-raras e por que são tão estratégicas
No centro da crise das terras-raras estão 17 elementos químicos usados na base da tecnologia moderna. Embora não sejam escassos, eles são difíceis de extrair e refinar. Por isso, o fornecimento global permanece concentrado na China.
Entre os principais elementos e suas aplicações:
- Neodímio (Nd) e praseodímio (Pr) – usados em ímãs de alta potência, presentes em turbinas eólicas e motores elétricos.
- Térbio (Tb) e díspio (Dy) – aplicados em painéis de LED e telas de smartphones.
- Ítrio (Y) – usado em supercondutores e lasers industriais.
- Lantânio (La) e cério (Ce) – empregados em baterias recarregáveis e catalisadores automotivos.
- Samário (Sm) e gadolínio (Gd) – comuns em reatores nucleares e equipamentos de ressonância magnética.
Esses elementos sustentam setores como energia limpa, defesa, IA e semicondutores. Por isso, a atual crise das terras-raras tem potencial para atingir de forma ampla a economia global.
Perspectivas da crise das terras-raras no cenário econômico
A crise das terras-raras expõe a dependência global de um único fornecedor e evidencia a fragilidade das cadeias de suprimento de alta tecnologia. Assim, governos e empresas são pressionados a diversificar fornecedores e investir em reciclagem e mineração sustentável.
No médio prazo, o impasse pode reconfigurar o mapa da economia verde e digital. Entretanto, especialistas alertam que nenhuma outra região possui capacidade técnica comparável à da China. Por fim, a crise das terras-raras deve se consolidar como o principal fator de instabilidade global em 2026, definindo um novo capítulo da disputa por recursos estratégicos entre as maiores potências do planeta.