O preço mundial da carne alcançou 127,8 pontos em setembro (09/2025). Trata-se do nível mais alto já registrado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) desde a criação da pontuação há três décadas. A marca representa um aumento de 0,7% em relação a agosto e de 6,6% frente ao mesmo mês de 2024.
Ela é impulsionada pela escassez global e pela demanda internacional firme. Desde janeiro, os preços da categoria acumularam alta próxima de 10%, liderada pelas carnes bovinas e de carneiro. O número em pontos não reflete um valor monetário, mas um indicador de tendência. O índice da FAO usa como base o período 2014–2016, definido como 100 pontos. Assim, o patamar atual de 127,8 indica que o preço médio global da carne está 27,8% acima da média histórica daquele triênio.
“Os surtos de doenças animais e as tensões nas políticas comerciais impulsionaram o aumento dos preços”, afirma Monika Tothova, economista da FAO.
Preço mundial da carne é influenciado pela escassez de oferta
Em diversos países produtores, a falta de gado para abate reduziu o volume destinado à exportação de carnes. Nos Estados Unidos, o estoque bovino é o menor dos últimos 70 anos, de acordo com o analista Andrés Oyhenard, da consultoria uruguaia Tardáguila Agromercados. Ele observa que parte dos criadores está retendo os animais para recompor o rebanho, o que deve levar até 2027.
No Brasil, maior exportador mundial, o cenário é semelhante: a alta dos preços da carne incentiva o abate, mas adia o processo de recomposição do gado. A tarifa de 50% imposta pelos EUA às exportações brasileiras redirecionou parte das vendas para mercados asiáticos. Além disso, custos elevados de energia, transporte e alimentação animal continuam pressionando os preços.
Condições climáticas e concentração de mercado
Eventos climáticos extremos e secas prolongadas afetaram pastagens e reduziram a produtividade em regiões-chave. Esses fatores, aliados ao aumento dos custos de insumos e à concentração do setor em poucas processadoras globais, reforçam o poder de precificação das empresas.
“Como os preços estão muito altos, existe um incentivo para manter o abate”, acrescenta Oyhenard, destacando que a escassez tende a se prolongar no curto prazo.
E enquanto o preço mundial da carne bovina dispara, outros alimentos seguem o caminho oposto. O preço do açúcar caiu 21%, o menor nível desde 2021, favorecido por uma colheita recorde no Brasil e boas safras na Índia e Tailândia, após fortes chuvas das monções. Já os laticínios registraram o terceiro mês consecutivo de queda, com recuos na manteiga e no leite em pó.
Tendências para o preço mundial e ajustes da cadeia global de carnes
O contraste entre a disparada do preço mundial da carne e o recuo de produtos básicos revela uma reconfiguração do equilíbrio agrícola global. Os dados da FAO indicam que, embora o índice geral de alimentos tenha caído 20% desde o pico de 2022, a carne mantém trajetória oposta. A recomposição dos rebanhos e os impactos climáticos devem sustentar preços elevados até 2027, segundo especialistas.
Panorama futuro do mercado de proteínas
A tendência é que o mercado mundial de carnes continue pressionado por limitações de oferta, custos de produção e eventos que alteram o ritmo das exportações e variações de preços. Países exportadores, como o Brasil, têm papel estratégico nesse cenário, ao equilibrar demanda internacional e consumo interno.
O descompasso entre carne em alta e alimentos básicos em queda indica uma transição estrutural na economia alimentar mundial. Portanto, esse é um fator que possui implicações diretas sobre comércio, inflação e segurança alimentar.









