Desde que assumiu seu novo mandato em 2025, a política ambiental de Trump reacendeu o debate sobre o papel dos Estados Unidos na agenda climática global. Uma pesquisa da Royal Institution of Chartered Surveyors (Rics) aponta que o crescimento na demanda por edifícios de escritórios sustentáveis desacelerou nas Américas, reflexo direto da mudança de rumo na política ambiental norte-americana. O impacto é mais visível em um setor que vinha sendo símbolo do compromisso com a descarbonização: a construção civil.
Segundo a Rics, ocupantes e investidores na América do Norte e do Sul registraram menor interesse em projetos de edifícios verdes nos últimos meses diante da política ambiental de Trump. Conforme publicado pelo The Guardian, nos Estados Unidos, o percentual de profissionais que relataram aumento de interesse em construções sustentáveis caiu de 25% para apenas 11%, o que representa o recuo mais forte desde 2015.
A retração, que ocorre justamente em meio à COP30 no Brasil, representa uma inflexão preocupante para um mercado que avançava desde o Acordo de Paris de 2015, projeto que Trump retirou os Estados Unidos.
No restante do mundo, a tendência também é de queda, embora em ritmo mais moderado.
Política ambiental de Trump e seus reflexos
Desde o início de seu novo mandato, Donald Trump tem revisado programas de incentivo à sustentabilidade e flexibilizado normas ambientais federais. O sinal político emitido pelos Estados Unidos afeta não apenas empresas locais, mas também investidores internacionais que utilizam o mercado norte-americano como referência. A reversão dessas políticas repercute nas Américas e reduz o ímpeto de fundos imobiliários e grupos globais em apostar na construção verde.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) reforça a gravidade do cenário:
Dados sobre emissões do setor de edificações (ONU, 2023):
- Participação total: edifícios residenciais e comerciais responderam por 34% das emissões globais de carbono.
- Fontes principais:
- 80% das emissões vieram do uso de energia, incluindo:
- aquecimento;
- refrigeração;
- eletricidade.
- 20% das emissões foram geradas pelo processo de construção em si (materiais, transporte e obras).
- 80% das emissões vieram do uso de energia, incluindo:
- Conclusão da ONU: o setor é considerado essencial para atingir as metas de neutralidade de carbono até 2050.
O mercado reage à incerteza
Para Nicholas Maclean, presidente interino da Rics, a desaceleração observada pode ser temporária.
“Edifícios verdes continuam a oferecer vantagem competitiva, atraindo locatários corporativos dispostos a pagar mais por espaços sustentáveis e eficientes”, afirma.
A visão é compartilhada por especialistas em ESG, que destacam que a política ambiental de Trump cria incerteza, mas não elimina a tendência global de busca por ativos sustentáveis.
Empresas com compromissos climáticos internacionais e grandes gestoras de fundos institucionais mantêm políticas próprias de sustentabilidade, independentemente de incentivos federais. Ainda assim, a política ambiental de Trump e a ausência de lideranças dos EUA enfraquece a confiança global e pode atrasar a transição para padrões construtivos de baixo carbono.
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Trump critica rodovia na Amazônia
Confira no vídeo: recentemente, Donald Trump criticou a rodovia na Amazônia, e o governador Helder Barbalho rebateu as declarações, reacendendo o debate sobre política ambiental e soberania na região.
A liderança climática em disputa
Enquanto os EUA reduzem o protagonismo, Europa e Ásia buscam preencher o vácuo. União Europeia, China e Japão reforçam políticas de financiamento verde, com programas de crédito e metas rígidas para reduzir emissões no setor de edificações. Essas iniciativas mantêm o fluxo de inovação e incentivam a criação de tecnologias de baixo consumo energético. Para analistas, a disputa por liderança na transição climática está se tornando um eixo estratégico de competitividade industrial e geopolítica.
Nova rota para a construção sustentável com a política ambiental de Trump
Se essas frentes avançarem, a construção sustentável poderá recuperar seu papel central na redução de emissões globais e no fortalecimento da economia verde, agora em um cenário mais fragmentado, mas inevitavelmente interligado.
O impacto da política ambiental de Trump sobre o mercado global é visto por analistas como um obstáculo temporário, mas que expõe a dependência da construção verde em relação a políticas de Estado. A retomada da expansão desse mercado dependerá de estabilidade regulatória, estímulo financeiro e pressão dos investidores por padrões ESG.










