A IA na medicina deu um passo concreto com o Clairity Breast, sistema desenvolvido por um consórcio internacional que prevê, a partir de mamografias comuns, o risco de câncer de mama com até cinco anos de antecedência. O modelo analisa exclusivamente as imagens e classifica as pacientes em grupos de risco.
O Clairity Breast recebeu treinamento com centenas de milhares de mamografias de pacientes das Américas e da Europa e não utilizou dados como histórico familiar, genética ou estilo de vida. Em vez disso, o sistema lê características do tecido mamário, como quantidade e textura do tecido glandular. Todos elementos que se relacionam ao risco de câncer e influenciam diretamente a qualidade do exame. Ao concentrar o cálculo de probabilidade nessas variáveis, o algoritmo se torna utilizável mesmo em rotinas clínicas com pouca informação adicional estruturada.
IA na medicina reorganiza a lógica da mamografia
Segundo a médica Christiane Kuhl, da RWTH Aachen, tumores agressivos e de crescimento rápido costumam passar despercebidos na mamografia tradicional, sobretudo em estágios iniciais. No estudo, a pesquisadora destaca que “as mulheres com pontuação elevada na IA desenvolveram câncer de mama quatro vezes mais frequentemente do que aquelas com baixa pontuação”. Logo, reforçando que o sistema detecta padrões de risco que o exame isolado não captura.
Porém, na prática, o Clairity Breast é uma camada adicional de análise após a mamografia de rotina, e não um substituto imediato. A ferramenta estima a probabilidade de ocorrência da doença em horizonte de cinco anos. Além disso, a partir de limiares definidos, indica se a paciente deve seguir na rotina de rastreamento padrão ou migrar para acompanhamento mais intenso.
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Ressonância magnética guiada por ferramentas de IA na medicina
Um dos efeitos mais diretos da IA Clairity Breast na medicina recai sobre o uso da ressonância magnética (RM). Trata-se do exame mais sensível para detectar lesões em estágio inicial, porém tem custo elevado e infraestrutura limitada, o que impede oferta generalizada. Kuhl resume o papel da ferramenta de IA na medicina ao afirmar que “a IA pode decidir em segundos se uma mulher precisa ou não de uma ressonância magnética para detecção precoce”. Nesse contexto, posicionando o sistema como um filtro automatizado para indicar quem deve ter acesso a exames avançados.
Esse mecanismo é especialmente relevante para mulheres com tecido mamário denso, grupo em que a mamografia costuma falhar com maior frequência. Embora apenas cerca de 10% das mulheres tenham densidade extremamente alta, muitas pacientes com diagnósticos tardios pertencem a faixas intermediárias, nas quais o risco é subestimado. Ao cruzar densidade e textura glandular, o Clairity Breast identifica perfis que se beneficiam da RM mesmo quando a mamografia não aponta alterações visíveis.
Novo patamar para inovação clínica
Para além do câncer de mama, o avanço do Clairity Breast ilustra como a IA se consolida em uma fase da medicina em que a saúde diagnóstica passa a depender de algoritmos capazes de antecipar riscos em vez de apenas confirmar achados visíveis.
Nesse cenário, o uso de IA em diferentes áreas da medicina tende a deixar de ser apenas promessa genérica e se torna parte vital. Portanto, elevando a capacidade de priorizar casos de maior risco e de reduzir diagnósticos tardios em sistemas de saúde pressionados por custo e demanda.











