A inflação importada teve papel central no alívio recente dos preços ao consumidor no Brasil, segundo o Relatório de Política Monetária divulgado pelo Banco Central (BC) nesta quinta-feira (18/12). Além disso, o relatório indica que a desaceleração do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no segundo semestre foi impulsionada, em grande medida, por fatores externos. Tudo enquanto pressões domésticas seguem limitando uma convergência mais rápida à meta.
De acordo com o BC, a melhora do indicador cheio não decorre de um rearranjo estrutural interno. O Banco Central ressalta que o efeito positivo vindo do exterior convive com entraves persistentes, como a inflação passada incorporada aos preços e expectativas ainda acima do objetivo de 3,00%.
O que é inflação importada e como ela aparece no relatório do BC
No Relatório de Política Monetária, o Banco Central define a inflação importada como o impacto (sobre os preços domésticos) de variações observadas no mercado internacional. Esse canal inclui efeitos do câmbio, dos preços das commodities e de bens e insumos adquiridos no exterior, que acabam repassados ao consumidor final.
Na avaliação técnica do BC, esse fator teve contribuição relevante no comportamento recente do IPCA:
- A inflação acumulada em 12 meses recuou de 5,13% em agosto para 4,46% em novembro.
- O IPCA do trimestre encerrado em novembro ficou 0,32 ponto percentual abaixo do cenário anterior do Copom.
- A inflação importada respondeu por –0,66 ponto percentual no desvio da inflação em relação à meta.
- O efeito esteve associado a preços internacionais mais baixos e a um ambiente cambial menos pressionado.
Segundo o documento, o impacto foi mais perceptível em bens industriais e em parte dos alimentos, segmentos mais sensíveis às condições externas.
Fatores domésticos reduzem o alcance do alívio externo
Apesar da contribuição favorável da inflação importada, o Relatório de Política Monetária mostra que os vetores internos seguem determinantes para o nível geral de preços. A decomposição do desvio do IPCA em relação à meta no fechamento de 2025 aponta:
- Inércia inflacionária: contribuição de +1,13 ponto percentual, refletindo a inflação acumulada nos períodos anteriores.
- Expectativas de inflação: impacto de +0,70 ponto percentual, conforme medidas acompanhadas pelo Banco Central.
- Hiato do produto positivo: contribuição de +0,40 ponto percentual, indicando atividade ainda acima do nível compatível com a meta.
- Desvio total da inflação em relação à meta: 1,35 ponto percentual em dezembro.
O BC avalia que, sem avanço na reancoragem das expectativas, o efeito descompressivo da inflação importada tende a ser parcial.
Outros apontamentos do BC no Relatório de Política Monetária
Além da análise dos preços, o documento apresenta uma leitura mais ampla do ambiente econômico:
- O PIB cresceu 0,1% no terceiro trimestre de 2025, sinalizando moderação da atividade.
- O mercado de trabalho perdeu ritmo, mas permanece relativamente equilibrado, com pressões concentradas em serviços intensivos em trabalho.
- O cenário externo segue marcado por incertezas comerciais e desaceleração gradual das economias avançadas.
- A política monetária permanece em patamar restritivo, com a Selic mantida em 15,00% ao ano, diante do distanciamento das expectativas em relação à meta.
- No cenário de referência, a inflação converge de forma gradual, alcançando 3,2% no segundo trimestre de 2027 e 3,0% apenas em 2028.
Inflação importada como amortecedor, não como solução
A leitura consolidada do Relatório de Política Monetária indica que a inflação importada funcionou como um amortecedor relevante no curto prazo, ao reduzir pressões externas sobre os preços. No entanto, o Banco Central deixa claro que esse alívio não substitui ajustes internos. Enquanto persistirem expectativas elevadas e efeitos da inflação passada, a inflação importada seguirá contribuindo para a desaceleração do IPCA, mas sem garantir, sozinha, a convergência sustentada da inflação à meta.











