As ações do Grupo Mateus passaram a enfrentar uma leitura mais dura do mercado após o JPMorgan rebaixar a recomendação dos papéis de neutro para underweight, sendo a classificação equivalente à venda de ativos. O corte ocorre em meio à queda acumulada de 25% em 2025. Além disso, reflete, segundo o banco, a avaliação de que o desempenho recente já sinaliza desafios mais amplos ao longo de 2026.
No relatório, o JPMorgan retirou o preço-alvo para dezembro de 2026, embora estime valor justo entre R$ 4,00 e R$ 4,50 por ação. O papel havia fechado a R$ 4,63 na sessão anterior à divulgação da análise. Para os analistas, a revisão não cria um novo risco. Porém, ela formaliza uma leitura mais cautelosa diante da piora gradual do ambiente operacional do varejo alimentar.
Ações do Grupo Mateus e o cenário de vendas em 2026
O banco descreve um setor pressionado por dificuldade em elevar volumes, em um contexto de migração do consumo para produtos mais baratos e resposta limitada a iniciativas promocionais. Além disso, a projeção de desaceleração da inflação de alimentos até patamares próximos de zero em meados de 2026 reduz o impulso nominal da receita, mesmo sem retração de demanda.
Nesse quadro, os analistas avaliam que há risco de vendas nas mesmas lojas (SSS) negativas no primeiro semestre de 2026. “Vemos riscos de que as vendas nas mesmas lojas se tornem negativas, limitando o espaço para ganhos de margem”, aponta o JPMorgan. Ainda que existam iniciativas de eficiência em despesas e capital de giro, o banco entende que a geração de fluxo de caixa livre deve permanecer limitada e irregular.
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Revisões financeiras futuras para as ações do Grupo Mateus
No relatório, o JPMorgan detalha as revisões feitas para 2026 em cinco frentes principais: vendas, lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), lucro por ação (LPA) com e sem efeito fiscal e a comparação com o consenso de mercado. Esses ajustes ajudam a explicar por que a leitura sobre o papel ficou mais cautelosa.
- Vendas em 2026: projeção revisada para baixo em 8%
- Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) em 2026: estimativa reduzida em 14%
- LPA: permanece praticamente estável apenas pelo efeito da subvenção fiscal do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
- Lucro por ação (LPA) sem efeito fiscal: a projeção cairia 16%
- Comparação com o consenso: lucro por ação (LPA) estimado está 10% a 15% abaixo das projeções de mercado para 2026 e 2027
O JPMorgan observa que, embora o Grupo Mateus negocie com desconto frente a outros varejistas listados, a qualidade dos resultados fica abaixo da média do setor, dado o peso dos incentivos fiscais. No comparativo setorial, a preferência do banco é pelo Assaí (ASAI3), visto como alternativa com maior previsibilidade operacional.
Papéis sob escrutínio mais rigoroso
A leitura mais negativa das ações do Grupo Mateus também incorpora questões de governança. No fim de novembro, após os resultados do terceiro trimestre de 2025, a companhia reconheceu erro de R$ 1,1 bilhão em estoques no balanço de 2024. Balanço associado a falhas no cálculo do custo médio das mercadorias vendidas e a controles ligados ao sistema ERP próprio.
Além disso, o banco destaca capital de giro elevado em relação aos pares e visibilidade limitada sobre os ajustes realizados. Mesmo admitindo alguma melhora operacional ao longo do tempo, o relatório aponta pouco apetite de investidores no curto prazo. Isso, portanto, deve manter os ativos do Grupo Mateus pressionados enquanto não houver maior clareza sobre controles, geração de caixa e trajetória de crescimento.











