O número de pedidos de recuperação judicial no Brasil superou 5,2 mil no terceiro trimestre de 2025, após mais de um ano de juros em alta no país. Desde que o Banco Central retomou o ciclo de elevação da Selic em 2024, o total de empresas nessa condição avançou cerca de 20%, segundo dados da Receita Federal compilados pelo Monitor RGF.
O dado reflete um período em que a taxa básica de juros saiu de 10,50% ao ano e alcançou 15%, nível não observado desde 2006. Ao longo desse intervalo, o encarecimento do crédito alterou o custo financeiro das empresas, pressionando o caixa e reduzindo espaço para rolagem de dívidas, especialmente em companhias com maior dependência de financiamentos bancários.
Pedidos de recuperação judicial e política monetária
A evolução dos pedidos de recuperação judicial acompanha a fase mais restritiva da política monetária. Analistas do mercado de crédito costumam apontar que juros elevados afetam tanto o capital de giro quanto investimentos, ao mesmo tempo em que reduzem a margem para renegociações privadas. Nesse cenário, a recuperação judicial passa a ser usada como instrumento legal para reorganizar passivos e preservar operações.
Os números mostram essa trajetória. No terceiro trimestre de 2024, havia 4.223 empresas em recuperação judicial. Um ano depois, esse contingente chegou a 5.285. O Monitor RGF ressalta que o indicador considera apenas matrizes empresariais, excluindo microempresas, filiais e naturezas jurídicas fora da categoria de entidades empresariais.
Distribuição regional dos pedidos de recuperação judicial
A distribuição regional dos pedidos de recuperação judicial mostra forte concentração nos estados com maior atividade econômica e maior uso de crédito empresarial. Em números absolutos, o quadro é o seguinte:
- São Paulo: possui cerca de 1,67 mil empresas em recuperação judicial
- Rio Grande do Sul: aproximadamente 500 empresas entraram com o pedido
- Paraná: em torno de 400 empresas
- Rio de Janeiro: cerca de 390 empresas
- Minas Gerais: aproximadamente 370 empresas
Logo, a concentração nesses estados acompanha o peso de suas cadeias produtivas e a maior exposição ao crédito bancário, o que amplia os efeitos do ambiente de juros elevados sobre o caixa corporativo.
Desde junho de 2023, a RGF & Associados acompanha uma base próxima de 2,1 milhões de empresas ativas, de pequeno, médio e grande porte. Dentro desse universo, o aumento das solicitações de recuperação judicial funciona como termômetro de estresse financeiro, ainda que não represente, por si só, encerramento das atividades.
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Leitura ampliada sobre o cenário no país
O avanço dos pedidos de recuperação judicial ocorre enquanto o mercado avalia a duração do atual patamar de juros. Especialistas em reestruturação avaliam que, caso a Selic permaneça elevada por um período prolongado, empresas com balanços mais frágeis podem continuar recorrendo a processos de recuperação judicial. Por outro lado, uma eventual flexibilização da política monetária tende a aliviar despesas financeiras e reduzir a pressão sobre o caixa corporativo. O que pode alterar gradualmente esse quadro ao longo do tempo.











