O Risco sacado é um tipo de antecipação de recebíveis. Trata-se de uma operação muito comum no varejo brasileiro onde o fenômeno do parcelamento de compras gera constante descasamento dos fluxos de pagamento e recebimento, o que leva a problemas de liquidez para as companhias (NIG positiva).
A operação, também conhecida como Forfait, ocorre quando a empresa (A) recebe mercadorias de seu fornecedor (B). A instituição financeira (C) é responsável por pagar o fornecedor (B) após a comprovação de entrega, conhecida como crédito performado. Isso torna essas operações mais baratas do que o crédito para capital de giro. A materialidade e a destinação específica são critérios relevantes para a obtenção de taxas mais baixas em operações de crédito privado.
A operação, por não envolver diretamente a transferência de taxa de juros entre a empresa (A) e a instituição financeira (C) acaba gerando movimentações patrimoniais entre a empresa e o fornecedor (B) (aumento na conta Estoques e Contas a Pagar) o que faz com que se perca a sensibilidade do real custo financeiro da empresa, levando a conclusões equivocadas sobre as despesas financeiras e o custo de capital, o que afeta drasticamente o WACC, levando a uma visão errada do valor de mercado da empresa.
No caso Americanas ainda não se sabe com exatidão a magnitude do problema, mas estima-se em pelo menos R$ 40 bilhões, com B. Repito até a exaustão que, ao trabalhar com finanças, nunca devemos perder a ordem de grandeza dos números e gostaria de realçar a magnitude deste número para além de ser, antes do escândalo, quase 3x o valor de mercado da empresa o que, por si só, já é impressionante.
R$ 40 bilhões são suficientes para
– Pagar um ano de Bolsa Família;
– Encher 2.500 caminhões carregados com notas de R$ 200,00;
– Comprar todos os imóveis de um bairro* em Fortaleza.
Mais dados da Americanas
-Deve R$ 40 bilhões ao mercado (R$ 4 bilhões apenas ao Bradesco e R$ 2 bilhões ao BTG, por exemplo, fora os debenturistas dentre eles, infelizmente, eu);
-Emprega diretamente cerca de 90.000 pessoas;
-Aluga mais de 218.000 metros quadrados de pelo menos 15 FII’s;
– É cliente de grandes fornecedores, como: Grendene, Vulcabrás, M. Dias Branco, Samsung, Whirpol, dentre várias outras.
Espero que a empresa atravesse a Recuperação Judicial (RJ) com serenidade e saia do outro lado fortalecida, limpa e com a lição aprendida. Espero que tenha fica do claro o que é risco sacado.
*Opinião – Artigo Por Michel Dias, especialista em gestão de ativos, formado em administração pelo UECE e MBA em finanças pela Saint Paul.