O setor privado enfrenta divisões devido ao projeto de lei de biocombustíveis, conhecido como combustível do futuro, voltado à descarbonização dos combustíveis, que também coloca o governo e a Petrobras em lados opostos. A proposta visa incentivar o uso de energias mais limpas mas levanta preocupações quanto aos potenciais aumentos de custos para grandes consumidores de energia, enquanto o agronegócio vê uma oportunidade de expansão de mercado. Em contrapartida, a cadeia de produção e distribuição de combustíveis se encontra em um ponto intermediário.
A Petrobras, entre outros insatisfeitos, planeja intensificar esforços no Senado para modificar o texto aprovado pela Câmara dos Deputados. A expectativa é que os senadores revisem pontos cruciais, como as metas de mistura de biodiesel e a obrigatoriedade de aquisição de biometano por parte da indústria do gás natural.
O vice-presidente do Senado, Veneziano Vital do Rêgo, encarregado de relatar o projeto, evitou comentar detalhes, mencionando a importância do projeto para a transição energética do país. A inclusão de no mínimo 1% de biometano no volume total de gás natural comercializado a partir de 2026 é uma das disposições mais debatidas.
Adrianno Lorenzon, diretor de Gás Natural da Abrace, critica a imposição da medida, argumentando que limita a flexibilidade do setor em escolher como reduzir emissões. Ele teme um aumento no custo do gás natural, prejudicando a competitividade.
Por outro lado, Alessandro Gardemann, da Associação Brasileira do Biogás, defende a obrigatoriedade para fomentar o uso do biometano, antecipando um aumento na demanda que estabilizaria os preços. Ele vislumbra um futuro em que o biometano será fundamental para a produção de metanol verde, amônia verde e aço verde.
A Abiquim, representante da indústria química, expressou preocupações sobre o impacto do projeto nos custos de produção, destacando um aumento potencial caso a meta de 1% de biometano seja implementada.
Entre os importadores de combustíveis, a recepção ao projeto foi moderadamente positiva, com Sérgio Araújo, presidente da Abicom, apoiando a previsibilidade que as metas de mistura trazem, mas advertindo contra a criação de reservas de mercado.
A principal distribuidora do país, a Vibra, expressa preocupação com possíveis reservas de mercado para biocombustíveis e adulteração de produtos. Henry Hadid, vice-presidente da empresa, sugere que a mistura de biocombustíveis seja realizada pelos produtores, promovendo maior flexibilidade no uso de combustíveis verdes certificados.