A investigação da Polícia Federal sobre um esquema de corrupção em Salvador envolvendo um grupo de empresários da Bahia aponta indícios de que Marcos Moura, um dos envolvidos, usou sua influência junto ao ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, para garantir o pagamento de valores pela prefeitura ao grupo.
Os contratos firmados entre o grupo e a Prefeitura de Salvador estão sendo investigados pela PF. Todos sob suspeita de fraude em licitação e superfaturamento, além de corrupção. A Operação Overclean investiga fraudes em licitações no Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs). Mas também em outras prefeituras, todas relacionadas ao mesmo grupo empresarial, liderado por Marcos Moura e Alex Parente.
Embora o ex-prefeito de Salvador não tenha sido alvo de nenhuma ação de corrupção da PF até o momento e não seja investigado diretamente no inquérito, ele é mencionado nas investigações, conforme documentos obtidos pelo UOL.
De acordo com a PF, “em razão dos contratos firmados pela empresa Larclean com o município, e conforme registrado no portal da transparência, a organização criminosa (ORCRIM) recebeu R$ 67.121.847,99 da Prefeitura de Salvador/BA, por meio da empresa Larclean. A licitação foi sistematicamente fraudada e os pagamentos superfaturados”, como consta no pedido de prisão dos empresários.
As informações foram inicialmente divulgadas pelo jornal O Globo.
Quem é Marcos Moura?
Marcos Moura tem filiação ao União Brasil e ocupa cargos de destaque na cúpula do partido. Preso na semana passada, ele é conhecido por sua proximidade com ACM Neto. Além disso, tem uma sociedade com a irmã do ex-prefeito na posse de uma aeronave.
Apelidado de “rei do Lixo”, Moura, peça central na investigação sobre corrupção, é proprietário de empresas de limpeza urbana, com contratos firmados com diversas prefeituras da Bahia, incluindo a de Salvador. Em 2018, enquanto ACM Neto ainda era prefeito, a empresa de Moura integrou o consórcio Ecosal, responsável por um contrato de R$ 427 milhões com a prefeitura para administrar a limpeza urbana da cidade por dois anos. Esse contrato teve renovação e continua vigente.
Associação criminosa
No entanto, as investigações da PF focam em outra empresa de Moura, a Larclean, e seus contratos com a Secretaria de Educação de Salvador. Embora Moura não seja sócio da Larclean, ele mantém uma parceria com o proprietário, Alex Parente, conforme apuraram os investigadores sobre o possível caso de corrupção em Salvador.
Em interceptações de diálogos de Alex Parente, que também sofre investigação por integrar a organização criminosa, ele menciona dificuldades para liberar pagamentos de um contrato com a Secretaria de Educação de Salvador. A PF aponta que o grupo recorreu a ACM Neto, que, embora não ocupe cargo público, teria sido consultado para resolver a questão. O atual prefeito de Salvador, Bruno Reis, também do União Brasil, é afilhado político de ACM Neto.
Alex Parente se refere ao ex-prefeito como “zero um antigo”, conforme a PF.
ACM Neto nega corrupção durante gestão de Salvador
A Polícia Federal destacou que “ficou evidente que não era a primeira vez que Alex teria solicitado ajuda de Marcos Moura, que, por sua vez, teria feito uma intervenção junto ao ex-prefeito ACM Neto”. A amizade entre Moura e o ex-prefeito é amplamente conhecida e frequentemente destacada pela imprensa. O que também se levou em conta para apurar corrupção em Salvador.
Em uma conversa interceptada, Alex Parente afirmou: “Se lembra daquela outra vez? Foi Marco que… Foi Marco que resolveu, entendeu? Falou com o zero um antigo. O zero um antigo falou e resolveu.”
Além disso, a investigação revelou que, para a liberação de pagamentos, Moura contatou diretamente o secretário de Educação de Salvador, Thiago Dantas. Em outra interceptação, Parente relata: “Aí Marco ligou pra ele na minha frente: ‘rapaz, tem um assunto de um amigo, é de um amigo meu, vê se você libera aí’.”
Em outro diálogo, Moura afirma que acionaria o “amigo” caso o secretário não resolvesse a situação. A PF sugere que esse “amigo” seria ACM Neto, capaz de interceder para resolver questões relacionadas à liberação de pagamentos. No relatório, a PF não encontrou elementos que comprovassem envolvimento do secretário de Educação com a organização criminosa. Por isso, justificou a ausência de medidas contra ele na operação.
O relatório também destaca que o atual prefeito de Salvador, Bruno Reis, não foi mencionado como envolvido nas investigações, apesar de sua ligação com ACM Neto.
A assessoria de ACM Neto afirmou que as menções ao seu nome nas investigações da Polícia Federal sobre corrupção em Salvador são “inferências” e não estão ligadas a qualquer ato ilícito. Em nota, a assessoria destacou que não há registro de diálogos de ACM Neto nos autos do caso. Durante uma confraternização do União Brasil, ACM Neto admitiu ser amigo de Marcos Moura, mas evitou comentar detalhes da investigação.