O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, se despede da instituição nesta sexta-feira (20). Os quase seis anos no comando do BC, ele esteve à frente de momentos que marcaram a história da instituição e impactaram o cotidiano dos brasileiros. Roberto Campos Neto liderou a transição para a autonomia do Banco Central, enfrentou desafios econômicos e promoveu inovações, como o Pix, que mudou a forma como milhões de pessoas fazem pagamentos.
No último dia do cargo, Roberto Campos Neto participa de uma live para discutir os principais momentos de sua gestão. Após a live, ele encerra a agenda com uma teleconferência com Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, reforçando o protagonismo internacional da autarquia durante sua liderança.
Transformações e momentos históricos no BC
Roberto Campos Neto assumiu o comando do Banco Central em fevereiro de 2019. Na época, ele foi indicado pelo então presidente Jair Bolsonaro. Desde o início, a gestão dele buscou por uma política monetária mais alinhada com a economia atual, com foco em estabilidade e modernização do sistema financeiro.
Alguns dos momentos mais marcantes da gestão incluem:
Autonomia do Banco Central:
- Em 2021, a aprovação da independência do BC deu um mandato fixo ao presidente da instituição, afastando-o das oscilações políticas do governo federal.
Criação do Pix:
- Lançado em novembro de 2020, o sistema de pagamentos instantâneos revolucionou a forma como os brasileiros realizam transações financeiras. Apesar de iniciado na gestão de Ilan Goldfajn, o Pix foi implementado durante a liderança de Roberto Campos Neto.
Menor taxa Selic da história:
- Durante a pandemia, o BC reduziu a taxa de juros para 2%, em uma tentativa de estimular a economia diante da crise sanitária e econômica global.
Roberto Campos Neto: conflitos e transição de liderança
A convivência com o governo Lula foi marcada por tensões. O presidente e a equipe criticaram a política de juros altos mantida pelo Banco Central para controlar a inflação. A Selic, que chegou a 13,75% em 2022, foi alvo de debates entre economistas e lideranças políticas. Além disso, gerou uma polarização que atravessou boa parte do mandato de Roberto Campos Neto.
Ainda assim, o presidente do BC conduziu a transição para o sucessor, Gabriel Galípolo, com cautela e planejamento. Roberto Campos Neto comentou em entrevistas que priorizou a institucionalidade da autarquia, garantindo uma passagem de comando “suave e bem planejada“, mesmo em um momento de pressão política.
A jornada de um economista no comando do BC
Roberto Campos Neto assumiu o comando do Banco Central com uma longa trajetória no setor financeiro. Formado em economia pela Universidade da Califórnia, ele tem experiência em instituições renomadas, como o Bozano Simonsen e o Santander Brasil. No Santander, chegou a ocupar o posto de diretor de tesouraria para as Américas. Essa bagagem foi fundamental para sua atuação no BC, combinando conhecimento acadêmico e prática de mercado.
- O presidente do BC é neto de Roberto Campos, um dos maiores economistas do país e ex-ministro do Planejamento.
O que fica da gestão de Roberto Campos Neto
Roberto Campos Neto transformou o Banco Central com decisões que dividiram opiniões. Enquanto muitos celebram o Pix e a autonomia do BC como avanços, críticas à sua condução da política monetária e ao uso da camisa da Seleção Brasileira durante as eleições de 2022 destacam os dilemas que ele enfrentou em um período de intensa polarização política.
Em sua despedida, o economista reafirmou seu compromisso com a independência da instituição e agradeceu à equipe do BC pelo apoio durante os desafios enfrentados.
“Cumpri minha missão até o fim, colocando o Banco Central acima de interesses políticos”, finalizou.