Quem viveu em São Paulo entre os anos 1950 e 1990 certamente lembra do icônico jingle: “Mappin, venha correndo, Mappin, chegou a hora!”. A loja de departamentos não era apenas um ponto de compras, mas um símbolo da cidade. Instalado na icônica Praça Ramos de Azevedo, ao lado do Teatro Municipal, o Mappin marcou época ao unir sofisticação e acessibilidade, tornando-se uma referência no varejo brasileiro.
A história da rede começa muito antes, em 1775, na Inglaterra, com a fundação da Mappin & Webb, especializada em produtos luxuosos. No início do século 20, a companhia chegou à América do Sul e, logo depois, abriu duas filiais no Brasil, uma no Rio de Janeiro e outra em São Paulo. Inicialmente voltada à elite paulistana, a loja vendia porcelanas, cristais e pratarias importadas, mantendo o padrão europeu.
Porém, a crise econômica de 1929 mudou os rumos da empresa. Com a perda de poder aquisitivo da aristocracia do café, a loja adotou uma nova estratégia: ampliou o crediário e passou a marcar preços nas vitrines, algo inovador para a época. Essas mudanças democratizaram o acesso aos produtos e transformaram o Mappin em um fenômeno popular.
Auge e inovação no varejo brasileiro
Em 1939, o Mappin transferiu-se para um grande edifício na Praça Ramos, consolidando-se como um verdadeiro shopping center da época. Com diversos andares e setores bem definidos, tornou-se parada obrigatória para consumidores em busca de moda, eletrodomésticos, móveis e brinquedos.
A loja se destacou por campanhas inovadoras. As vitrines de Natal eram uma atração à parte, encantando crianças e famílias. Suas liquidações causavam filas nas portas, e o crediário facilitava o acesso de todas as classes sociais a bens antes restritos à elite.
Nos anos 1980, o Mappin atingiu seu auge. Em 1983, foi eleita “Empresa do Ano” pela revista EXAME, e no ano seguinte, uma pesquisa do Instituto Gallup revelou que 97% dos moradores de São Paulo conheciam a marca e 67% já haviam comprado na loja. Para expandir, a empresa adquiriu cinco unidades da rede Sears em 1991 e abriu filiais em shopping centers.
Crise financeira e falência do Mappin
O crescimento acelerado, porém, sobrecarregou as finanças da empresa. Na metade da década de 1990, o Mappin acumulava dívidas milionárias. Em 1995, registrou um prejuízo de quase R$ 20 milhões e foi vendido ao empresário Ricardo Mansur, que pretendia revitalizar a marca e unificá-la com a também decadente Mesbla.
A estratégia, no entanto, falhou. A empresa mergulhou em uma crise ainda maior, e em 1999, com R$ 1,2 bilhão em dívidas, fechou definitivamente, deixando cerca de 2 mil funcionários desempregados e entrou em falência. Ricardo Mansur foi posteriormente condenado por gestão fraudulenta e preso em 2020.
Tentativa de retorno no digital
Apesar do fechamento das lojas físicas, a marca Mappin permaneceu na memória dos consumidores. Em 2010, o grupo Marabraz arrematou a marca em um leilão por R$ 5 milhões. Em 2019, foi relançada como e-commerce de produtos de decoração e utilidades domésticas.
A promessa de reabrir lojas físicas, feita antes da pandemia, nunca se concretizou. Embora o nome continue vivo no varejo digital, o Mappin da Praça Ramos de Azevedo, com suas vitrines decoradas e corredores movimentados, permanece apenas na nostalgia dos paulistanos.