O setor de pescado brasileiro enfrenta um dos seus momentos mais delicados. Após o anúncio da tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros, as exportações brasileiras de pescado sofreram um golpe direto: cerca de 1.500 toneladas tiveram embarque suspenso, segundo a Exame. A interrupção atinge em cheio a tilápia, principal produto exportado, e deixou produtores com contêineres prontos, mas sem destino certo.
Tilápia domina exportações brasileiras de pescado e expõe risco
Em 2022, o Brasil exportou US$ 23,8 milhões em pescado, sendo 81% destinados aos Estados Unidos, segundo a Embrapa. A tilápia responde por 98% desse volume, especialmente na forma de filés congelados. Essa dependência de um único destino e espécie amplia a exposição a choques comerciais e políticos.
A PeixeBR estimou em US$ 9 milhões os contratos suspensos após o anúncio da tarifa. O presidente da entidade, Francisco Medeiros, alertou: “A piscicultura brasileira está atrelada ao mercado americano. Essa suspensão representa prejuízo imediato.”
A Abipesca reforça que o setor de pescados é o mais impactado pela tarifa de Trump. Segundo a entidade, o mercado americano representa 80% das exportações brasileiras do setor, com receita de US$ 244 milhões anuais. Os principais produtos exportados incluem lagosta do Ceará, tilápia do Sul e Sudeste, pargo do Pará, corvina e atum. Com o cenário de incerteza, indústrias iniciaram o cancelamento de contratos e embarques.
Nordeste sofre com impacto das exportações brasileiras de pescado
O impacto mais severo se concentrou no Nordeste, especialmente em Pernambuco, Bahia e Ceará, onde frigoríficos e criadores relataram perdas com pedidos suspensos. Empresários americanos informaram a suspensão de compras logo após o anúncio das tarifas, provocando acúmulo de estoque e risco de perdas.
A Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca) alertou que, se os embarques não forem concluídos até 1º de agosto, os contêineres com peixes frescos não chegarão a tempo de escapar da nova tarifa, resultando em prejuízo certo.
“Para peixes frescos, o comércio será interrompido nas próximas semanas”, disse a entidade.
Falta de diversificação limita exportações
Fora dos EUA, as exportações brasileiras de pescado ainda têm pouca penetração. O Canadá absorve cerca de 5% do total; Taiwan compra subprodutos; e países como México e Líbia aparecem de forma esporádica. Nenhum desses mercados se aproxima da relevância americana.
Além disso, a dominância da tilápia restringe a flexibilidade do setor. Espécies como tambaqui (US$ 268 mil em 2022) e sorubim (US$ 114 mil) têm desempenho modesto, mas representam alternativas viáveis diante do cenário atual.
Estratégias para retomar exportações brasileiras de pescado
Empresas buscam soluções rápidas com Canadá, Emirados Árabes e América do Sul, mas enfrentam barreiras logísticas e regulatórias. A certificação Halal e a rastreabilidade ambiental podem abrir portas em novos mercados, especialmente no Oriente Médio e Europa.
Internamente, o consumo de pescado no Brasil é de apenas 9,5 kg por habitante, bem abaixo dos 20 kg recomendados pela FAO. Isso abre espaço para absorver parte do excedente por meio de incentivos e campanhas institucionais.
Exportações exigem ação estratégica
A crise evidencia a fragilidade estrutural das exportações brasileiras de pescado. A dependência do mercado americano, somada à falta de rotas comerciais alternativas, impõe ao setor produtivo a urgência de rever sua estratégia internacional.
Com embarques suspensos, contratos cancelados e risco de perdas crescentes, o setor clama por apoio governamental, via Itamaraty, ApexBrasil e bancos de fomento. Sem um plano de diversificação consistente, o Brasil seguirá vulnerável a decisões externas que afetam diretamente sua produção, renda e emprego.