O que muda no setor de cartões com a chegada da bandeira chinesa UnionPay ao Brasil? Prevista para 2025, a entrada da empresa no mercado nacional representa um fato bastante relevante no setor de pagamentos e pode alterar a dinâmica competitiva entre as principais bandeiras internacionais. Nesse contexto, a chegada da UnionPay ao Brasil, bandeira que concentra cerca de 40% das transações globais com cartões, será conduzida em parceria com a fintech brasileira Left (Liberdade Econômica em Fintech), que ficará encarregada de emitir os cartões e integrar a operação aos bancos, maquininhas e sistemas de crédito.
UnionPay no Brasil na função crédito e integração ao Pix
A operação da UnionPay no Brasil começa com a ativação da função crédito ainda em 2025. Em seguida, está prevista a integração com o Pix, sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central. Além disso, a empresa pretende alcançar aproximadamente 70% do varejo nacional, atuando primeiramente com as empresas Stone e Saque e Pague. Paralelamente, o plano inclui a adaptação de mais de 1.500 caixas eletrônicos em todo o país, fortalecendo a chegada da UnionPay ao Brasil em múltiplas frentes.
Modelo de impacto social será o diferencial da chegada da UnionPay no Brasil
A fintech Left desenvolverá uma plataforma para destinação de parte das taxas de transação a causas sociais escolhidas pelos usuários. O modelo prevê relatórios transparentes e acompanhamento público, diferenciais ainda ausentes entre as principais concorrentes do setor.
Histórico da UnionPay e consolidação na China
A criação da UnionPay, em 26 de março de 2002, teve autorização do Banco Popular da China (PBOC) e consolidou o Projeto Cartão Dourado, lançado em 1993 durante a gestão de Jiang Zemin. A iniciativa buscava unificar os sistemas de pagamento no país. Desde sua origem, contou com apoio de bancos estatais como Banco da China, Banco Agrícola da China, China Construction Bank e ICBC.
Atualmente, a empresa atua em 180 países, já emitiu mais de 150 milhões de cartões fora da China e é aceita em mais de 55 milhões de estabelecimentos comerciais. Em 2015, a UnionPay ultrapassou Visa e Mastercard em volume total de pagamentos com cartões. Agora, a chegada da UnionPay ao Brasil representa o próximo passo de sua expansão global.
Assista vídeo institucional da UnionPay:
Inserção internacional e disputas geopolíticas
Apesar da liderança em volume, mais de 99% das transações da UnionPay ainda ocorrem no mercado doméstico. Desde 2022, a empresa passou a ganhar visibilidade geopolítica ao absorver parte das operações de bancos russos impedidos de atuar com Visa e Mastercard após sanções econômicas.
UnionPay utiliza sistema CIPS
A UnionPay opera por meio do sistema CIPS (Cross-Border Interbank Payment System), alternativa chinesa ao SWIFT. Com isso, o modelo tem sido utilizado por países que buscam rotas financeiras fora da influência dos Estados Unidos, ampliando o alcance estratégico da empresa.
Comparativo das diferenças estruturais entre as bandeiras UnionPay, Visa e Mastercard
A chegada da UnionPay no Brasil expõe os contrastes entre os modelos das três principais operadoras globais de cartões:
| Indicador | UnionPay | Visa | Mastercard |
|---|---|---|---|
| País de origem | China | Estados Unidos | Estados Unidos |
| Ano de fundação | 2002 (PBOC) | 1958 | 1966 |
| Controle | Estatal (não listada) | Privada (NYSE: V) | Privada (NYSE: MA) |
| Presença internacional | 180 países (foco interno) | 200+ países | 210+ países |
| Volume de pagamentos (2023) | US$ 19 trilhões (estimado) | US$ 14 trilhões | US$ 9 trilhões |
| % fora do país de origem | ~0,5% | ~55% | ~60% |
| Receita líquida (2024) | Não divulgada | US$ 35,9 bi | US$ 28,17 bi |
| Lucro líquido (2024) | Não divulgado | US$ 19,74 bi | US$ 12,87 bi |
| Sistema de pagamentos | CIPS | SWIFT | SWIFT |
A UnionPay concentra sua atuação na expansão da infraestrutura de pagamentos da China, operando com margens de lucro inferiores às registradas pelas concorrentes Visa e Mastercard, que funcionam como plataformas corporativas globais. O modelo estatal chinês, por sua vez, reflete uma lógica de soberania financeira, enquanto as concorrentes americanas operam com foco em rentabilidade e distribuição de dividendos
Perspectivas para chegada da UnionPay no Brasil
A chegada da UnionPay no Brasil cria novas possibilidades de competição no mercado brasileiro, que continua fortemente concentrado. Assim, a combinação entre tecnologia própria, integração com o Pix e abordagem socializada pode gerar impactos no comportamento dos consumidores e nas estratégias das operadoras já estabelecidas. Instituições reguladoras e todo o setor financeiro devem acompanhar de perto o desdobramento dessa disputa.









