Durante uma coletiva conjunta no início desta semana com o premiê britânico Keir Starmer, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu publicamente a gravidade da fome em Gaza. A declaração representa uma mudança de postura por parte de Washington, que até então mantinha apoio firme ao governo de Israel desde o início da guerra contra o Hamas, em 7 de outubro de 2023.
“Algumas dessas crianças… é uma fome real. Eu vejo isso, não dá para fabricar”, afirmou Trump. Ele também defendeu que os Estados Unidos intensifiquem sua atuação nas ações humanitárias no território palestino.
A fala de Trump contrasta com a do premiê israelense Benjamin Netanyahu, que, no mesmo dia, declarou: “Não há fome ou política de fome em Gaza”.
Divergência entre aliados históricos
Questionado diretamente sobre a declaração de Netanyahu, Trump respondeu: “Com base no que vejo na televisão, eu diria que não exatamente, porque aquelas crianças estão sofrendo muito com a fome”.
O presidente norte-americano também informou que estão sendo enviados alimentos e recursos financeiros à região, e apelou para que Israel assegure que essa ajuda chegue de fato à população civil. Além disso, anunciou planos para a criação de centros de alimentação em Gaza, com o apoio de países aliados — embora não tenha especificado quais nações participariam nem como a iniciativa seria implementada.
“Hoje, as pessoas veem a comida a uma distância e não conseguem alcançá-la por causa de cercas. Está uma loucura por lá”, disse Trump.
Reino Unido defende cessar-fogo diante da crise humanitária
O primeiro-ministro britânico Keir Starmer reforçou a necessidade de ampliar a assistência à população palestina e defendeu um cessar-fogo imediato. O Reino Unido também anunciou medidas para evacuar crianças feridas e doentes da Faixa de Gaza e intensificar a entrada de suprimentos humanitários.
Após o encontro entre os dois líderes, um comunicado conjunto reforçou a urgência de reduzir o sofrimento dos civis em Gaza e defendeu a entrada “em larga escala e com rapidez” da ajuda internacional.
Ajuda humanitária avança após pausa militar
Nesta semana, dezenas de caminhões carregados com alimentos cruzaram a passagem de Rafah, no sul de Gaza, vindos do Egito. A movimentação ocorreu após o Exército de Israel anunciar pausas diárias nas operações militares para permitir corredores humanitários.
Segundo o Cogat — órgão do governo de Israel vinculado ao Ministério da Defesa do país —, mais de 120 caminhões com ajuda humanitária foram distribuídos no domingo. Outros 180 ainda aguardam liberação para serem recolhidos por agências das Nações Unidas (ONU) e organizações não governamentais (ONGs) atuantes na região.
As pausas estão previstas para ocorrer diariamente, das 10h às 20h (horário local), nas regiões de Al-Mawasi, Deir al-Balah e na Cidade de Gaza.
Fome em Gaza gera críticas internacionais
A ONU e diversas organizações humanitárias vêm denunciando o agravamento da situação em Gaza. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, classificou o cenário como um “show de horrores”.
De acordo com a ONU, cerca de um terço da população palestina passa dias sem acesso a alimentos. Imagens recentes mostram crianças gravemente desnutridas em hospitais. O Ministério da Saúde de Gaza contabiliza 127 mortes por desnutrição, sendo 85 entre crianças.
Israel, por sua vez, argumenta que as restrições à entrada de suprimentos têm como objetivo impedir que recursos caiam nas mãos do Hamas. O governo de Netanyahu também responsabiliza a ONU por falhas na distribuição da ajuda. No entanto, agências internacionais relatam dificuldades operacionais e impedimentos para atuar plenamente no território.
Apesar do aumento da pressão externa, o governo israelense afirma que continuará a ofensiva militar até alcançar o que chama de “vitória total” sobre o Hamas. As negociações por um cessar-fogo, mediadas no Catar, seguem paralisadas e sem previsão de retomada.
A guerra começou em 7 de outubro de 2023, após um ataque do Hamas que matou mais de 1.200 pessoas em Israel e levou ao sequestro de 251 reféns. Desde então, o conflito já deixou quase 60 mil mortos na Faixa de Gaza, segundo autoridades locais com dados reconhecidos pela ONU. A maioria das vítimas são mulheres e crianças.