Em meio à mudança de hábitos e à pressão regulatória do “imposto do pecado”, a maior queda no consumo de refrigerantes foi registrada na América Latina em 2024. A categoria de bebidas açucaradas perdeu 4% de força no carrinho de compras das famílias, sendo a maior retração da última década. Os dados são do levantamento da Brand Footprint Latam 2025, produzido pela Kantar e Numerator.
O levantamento mostra ainda que os consumidores visitaram, em média, 8,9 canais e compraram produtos de 86 empresas diferentes em 2024. Nesse contexto, os refrigerantes perderam espaço diante da busca por alternativas mais saudáveis. Por conseguinte, a percepção negativa pesa: 89% dos consumidores latino-americanos associam bebidas açucaradas a riscos à saúde e 38% afirmam que pretendem reduzir o consumo nos próximos meses.
Já no Brasil, o impacto foi ampliado pelo Imposto Seletivo, o chamado “imposto do pecado”, que elevou custos e reforçou a pressão sobre as fabricantes.
Com a queda no consumo de refrigerantes, abre-se espaço para outras bebidas
Mesmo com esse resultado, o setor de refrigerantes mantém a liderança entre as bebidas não alcoólicas. Segundo dados da Euromonitor, o mercado brasileiro movimentou 13,4 bilhões de litros em 2024. No entanto, sucos prontos, águas minerais e energéticos avançam rapidamente, enquanto pequenas marcas regionais conquistam espaço ao oferecer opções ligadas à tradição local.
O CRP (Consumer Reach Points) é um índice usado para medir a força de uma marca no consumo. Ele combina alcance — número de lares que compram a marca — e frequência — quantas vezes esses lares escolhem a mesma marca ao longo do ano. Quanto maior o CRP, maior a presença da marca no dia a dia dos consumidores. Em 2024, a Coca-Cola liderou o ranking na América Latina com 2,873 bilhões de CRP, seguida por Colgate (804 milhões), Pepsi (598 milhões), Lala (534,4 milhões) e Bimbo (533,9 milhões).
Mas o Brand Footprint Latam 2025 confirmou a queda no consumo de refrigerantes nos 11 países analisados. Ao mesmo tempo, categorias vistas como naturais ampliaram penetração e frequência. No Brasil, marcas menores de sucos e águas intensificaram a diversificação do mercado e conquistaram consumidores que buscam frescor e praticidade sem abrir mão do sabor.
Indústria reage à retração e opta pelos produtos mais saudáveis
A resposta das fabricantes aponta para reformulação. Coca-Cola e Ambev investem em versões com menos açúcar e menor valor calórico, buscando preservar participação de mercado. “A reformulação é essencial, mas precisa manter isonomia no mercado”, afirmou Alexandre Horta, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas (Abir). Nesse contexto, o setor tenta conciliar a redução de açúcar com a manutenção do perfil tradicional dos produtos.
A tendência indica que a queda no consumo de refrigerantes deve acelerar a fragmentação do mercado de bebidas na América Latina. De um lado, consumidores ampliam o leque de opções saudáveis; de outro, a indústria precisa equilibrar custos, inovação em portfólio e preservação de identidade para não perder relevância nos próximos anos.









