É um fato: o impacto do desmatamento na economia brasileira é cada vez mais visível. O alerta vem do Climate Policy Initiative Brasil, organização internacional afiliada à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Segundo o estudo, o país perde mais de R$ 1 bilhão por ano apenas na geração de energia elétrica em razão da destruição da Amazônia.
As consequências não se limitam à energia. Além disso, elas atingem o agronegócio, a infraestrutura hídrica e o transporte fluvial, setores essenciais para o crescimento econômico. Por esse motivo, a floresta amazônica passou a ser tratada como ativo estratégico da economia nacional.
O estudo da CPI/PUC-Rio, intitulado “Quando a fonte seca: As ameaças do desmatamento para a economia brasileira”, publicado no começo de outubro, mostra que, quando a floresta é suprimida, o ciclo natural de evapotranspiração é interrompido. Com isso, diminui o volume de chuvas nas regiões agrícolas e industriais do Centro-Sul, afetando a produtividade, aumentando custos e provocando sérios impactos na economia, tudo devido ao desmatamento.
Impacto do desmatamento recai sobre o agronegócio
A agropecuária, responsável por cerca de 24% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, é a mais vulnerável à falta de chuvas. Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), entre 2013 e 2023, os desastres naturais — principalmente secas e estiagens — causaram R$ 271 bilhões em prejuízos à agricultura e R$ 86,6 bilhões à pecuária, totalizando R$ 357 bilhões em perdas no campo.
Esses prejuízos decorrem de:
- Quebras de safra e menor produtividade;
- Aumento do custo de irrigação;
- Redução da oferta de grãos e elevação dos preços internos.
Com apenas 13% da área agrícola irrigada, o setor depende das chuvas formadas na Amazônia. As regiões de soja, milho, café e cana-de-açúcar estão no trajeto dos rios voadores, correntes de umidade que levam água do Norte ao Centro-Sul. Por essa razão, o desmatamento compromete diretamente a estabilidade do agronegócio, levando a um impacto rigoroso na economia.
Assista à reportagem do Globo Repórter sobre os impactos da crise climática na Amazônia:
Setores econômicos de energia e exportações também sofrem
O setor elétrico é outro pilar atingido pelo impacto do desmatamento na economia. Atualmente, 56% da matriz energética nacional depende de hidrelétricas. Segundo a CPI/PUC-Rio:
- A Usina Hidrelétrica (UHE) Belo Monte perde R$ 638 milhões por ano;
- A UHE Itaipu registra R$ 500 milhões em perdas;
- A UHE Teles Pires deixa de gerar R$ 115 milhões anuais.
Com menos água nos reservatórios, o país depende mais das termelétricas, o que encarece a energia e eleva as emissões de carbono.
Enquanto isso, o setor logístico também sente o impacto do desmatamento na sua economia. Entre 2010 e 2023, o transporte fluvial de soja e milho aumentou 782%, mas as secas reduziram o volume de cargas na Amazônia em 40%. Em 2024, a Hidrovias do Brasil S.A. registrou prejuízo de R$ 622 milhões, resultado direto da queda dos níveis dos rios.
Efeitos do desmatamento na economia ampliam riscos e custos ambientais
Além das perdas econômicas, o desmatamento eleva os riscos de incêndios florestais e agrícolas. Só em 2024, 30 milhões de hectares queimaram, causando R$ 14,7 bilhões em prejuízos, segundo a plataforma de mapeamento de biomas, MapBiomas. O calor extremo e a redução das chuvas fragilizam a vegetação, tornando-a mais suscetível ao fogo. Isso compromete lavouras, pastagens e a regeneração do solo.
De acordo com o projeto Amazônia 2030, apoiado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) e pela Iniciativa Internacional Norueguesa para Clima e Florestas (NICFI), o impacto do desmatamento na economia é estrutural e afeta o potencial de crescimento de longo prazo. Portanto, preservar a floresta Amazônica significa proteger a produtividade, a segurança hídrica e a estabilidade fiscal da nação. Nesse contexto, a “floresta em pé” torna-se um ativo econômico vital para o futuro do país.









