O Banco Central (BC) iniciou nesta terça-feira (04/11) mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve manter a projeção da taxa Selic em 15% ao ano, o maior patamar desde 2006. O resultado oficial será divulgado nesta quarta-feira, após o fechamento dos mercados, consolidando o terceiro encontro consecutivo sem mudanças na taxa básica de juros.
A decisão ocorre em meio à desaceleração da inflação, que ainda se mantém acima da meta de 3%, com projeção de IPCA acumulado em 5,1%. Analistas do mercado financeiro avaliam que o BC seguirá com postura cautelosa, evitando antecipar cortes antes da consolidação da trajetória de queda dos preços. O tom conservador se explica também pelo cenário externo, em que Estados Unidos e Europa ainda operam com juros elevados.
O que é a taxa Selic e como ela chegou até aqui
A taxa Selic, sigla de Sistema Especial de Liquidação e Custódia, é o principal instrumento da política monetária brasileira. Ela influencia o custo do crédito, o consumo e o investimento em toda a economia. Portanto, quando o Banco Central eleva a projeção da taxa Selic, o objetivo é conter a inflação, tornando o crédito mais caro e desestimulando o consumo. Em sentido oposto, quando reduz, busca incentivar a atividade econômica.
Nos últimos anos, o país viveu um dos ciclos de alta da taxa Selic mais intensos desde o Plano Real. Entre março de 2021 e setembro de 2023, a projeção da taxa Selic saltou de 2% para 15% ao ano, em uma sequência de aumentos que refletiu o impacto global da pandemia e o avanço dos preços de energia e de alimentos. Desde então, o BC tem preferido manter os juros em níveis elevados para assegurar que a inflação volte de forma consistente à meta.
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Copom avalia estabilidade antes de reduzir a taxa básica de juros
Na ata da última reunião, o Copom reforçou a estratégia de manter os juros em patamar contracionista por “período bastante prolongado”. Nesse sentido, a condução monetária busca preservar a convergência da inflação para a meta e evitar pressões adicionais de consumo e crédito. Além disso, o novo presidente do BC, Gabriel Galípolo, abriu o encontro desta semana apresentando projeções de atividade econômica e perspectivas fiscais, que sustentam o discurso de prudência.
A estabilidade da projeção da taxa Selic tem provocado efeitos diretos na economia real. O crédito ao consumidor segue restrito, e os investimentos produtivos recuam diante do custo elevado de financiamento. Ainda assim, a política monetária atual é vista como necessária para conter a alta de preços e reforçar a credibilidade da instituição.
Em avaliação à nova reunião do Copom, Pedro Brandão, economista e presidente do Conselho de Administração do Grupo Prime Plus, afirmou que o atual cenário “revela um dilema entre a necessidade de conter a inflação e o custo crescente para o setor produtivo”, destacando que as decisões do Banco Central já refletem o esgotamento do ciclo de aperto monetário.
Projeção da taxa Selic e corte gradual
Parte dos economistas acredita que o ciclo de alívio deve começar em dezembro, com uma redução de 0,25 ponto percentual. O que leva a taxa básica de juros para 14,75% ao ano. Portanto, a aposta se apoia no ritmo mais lento da inflação e no enfraquecimento do consumo das famílias.
“O Copom deve confirmar amanhã a manutenção dos juros e preparar o terreno para cortes graduais no fim do ano”, avalia um relatório do Itaú BBA.
A manutenção da projeção da taxa Selic hoje mantém o Brasil entre as economias com maiores juros reais do mundo, à frente de países latino-americanos e emergentes asiáticos. Logo, o desafio do BC será equilibrar o controle da inflação sem sufocar a retomada da atividade produtiva. E esse é um teste de confiança que deve marcar a reta final de 2025.










