A regulação do streaming avançou no Senado Federal nesta terça-feira (16/12) com propostas que podem elevar custos operacionais, alterar estratégias comerciais e influenciar decisões de investimento das plataformas que atuam no mercado brasileiro de audiovisual.
O avanço ocorre após reunião do governo com o relator Eduardo Gomes (PL-TO), na fase final de tramitação dos projetos que tratam do tema. A articulação envolveu o Ministério da Cultura (MinC) e a Agência Nacional do Cinema (Ancine). Também participaram a Secretaria de Comunicação Social (Secom), o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e a Liderança do Governo no Senado.
Regulação do streaming e impacto financeiro
Do ponto de vista econômico, o principal ponto da regulação do streaming é a proposta de alíquota unificada de 3% da Condecine sobre a receita das plataformas. Para as empresas, a cobrança cria um custo permanente em um setor pressionado por concorrência intensa, gastos elevados com conteúdo e desafios de rentabilidade.
Dessa forma, a nova alíquota tende a afetar precificação de assinaturas, projeções de caixa e estratégias de expansão. Em um mercado com crescimento mais moderado de usuários, qualquer elevação estrutural de custo impacta diretamente margens e decisões sobre onde alocar capital.
Outro eixo relevante é a manutenção da Condecine-Remessa, aplicada sobre conteúdos estrangeiros. Atualmente, mais de 100 mil títulos internacionais estão disponíveis nos catálogos no Brasil. Logo, o mecanismo funciona como ajuste financeiro que influencia o equilíbrio entre conteúdo importado e produção local, com reflexos no mix de catálogo e nos custos de licenciamento.
Regulação do streaming e estratégia empresarial
A proposta também delimita o alcance da lei ao excluir conteúdos gerados por usuários e materiais sem remuneração direta. Para plataformas com modelos híbridos, a regra reduz o risco jurídico. A medida preserva receitas baseadas em publicidade e engajamento. Também evita efeitos indiretos sobre negócios que não têm o audiovisual como atividade principal.
No campo editorial, a exigência de cota mínima de 10% de obras brasileiras, sem permitir a contabilização de conteúdos próprios das plataformas, altera estratégias de aquisição. Portanto, a medida tende a ampliar contratos com produtoras independentes, elevando custos de compra e exigindo ajustes na curadoria e na exposição dos títulos.
Além disso, o governo defende que os recursos da Condecine sejam destinados exclusivamente a obras brasileiras independentes, vedando reinvestimentos em produções classificadas como “originais” das plataformas. Assim, a diretriz limita estratégias de verticalização e reduz a captura direta de incentivos públicos por grandes grupos internacionais.
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Novo equilíbrio para o mercado audiovisual
Outro ponto com impacto econômico é a previsão de uma janela mínima de nove semanas entre a estreia de filmes nos cinemas e sua disponibilização no streaming. A regra afeta o timing de monetização, o retorno sobre coproduções e a lógica de lançamento adotada pelas plataformas.
No conjunto, a regulação do streaming avança como um fator decisivo para o ambiente de negócios do setor no Brasil, com o texto em análise final no Senado. A combinação de novos custos, regras de catálogo e restrições ao uso de incentivos tende a redesenhar estratégias de investimento e expectativas de rentabilidade. Para as empresas, o posicionamento do Senado sinalizará o peso regulatório do país em um momento de revisão global de portfólios e priorização de mercados com maior previsibilidade econômica.











