Durante anos, consolidou-se no ambiente corporativo a ideia equivocada de que o Conselho de Administração é uma instância meramente formal, criada para atender exigências estatutárias ou boas práticas de governança. Essa leitura superficial ignora um ponto central: é no Conselho de Administração que a estratégia de uma empresa começa a ganhar forma ou a perder consistência.
O Conselho de Administração é o órgão responsável pelo direcionamento estratégico da empresa, pela supervisão da gestão executiva e pela proteção dos interesses da organização no longo prazo. Sua função é definir rumos, aprovar decisões estruturais e fiscalizar a atuação da diretoria, enquanto sua missão é garantir governança, sustentabilidade e geração de valor.
Na prática, muitas organizações possuem conselhos que funcionam apenas como órgãos de validação. Recebem apresentações prontas, validam decisões já tomadas pela diretoria executiva e se limitam a cumprir ritos periódicos. Quando isso ocorre, o conselho abdica do seu papel mais relevante e deixa de exercer influência real sobre o direcionamento estratégico do negócio.
O que é o Conselho de Administração e por que ele existe
Na prática, esse papel se materializa no Conselho de Administração como órgão colegiado. Ele não participa da gestão cotidiana, mas atua como instância máxima de orientação, fiscalização e tomada de decisão de longo prazo. Sua função é servir de elo entre os sócios ou acionistas e a gestão, assegurando coerência estratégica e proteção de valor ao longo do tempo.
Além disso, a existência do Conselho de Administração reduz o risco de decisões tomadas a partir de uma única visão. Ao reunir experiências e pontos de vista diferentes, o conselho ajuda a empresa a questionar decisões, alinhar expectativas e identificar riscos que muitas vezes não aparecem nos relatórios do dia a dia.
Função e missão do Conselho de Administração na estratégia empresarial
A função central do Conselho de Administração é definir e acompanhar a execução da estratégia de longo prazo da empresa. Isso inclui aprovar planos estratégicos, deliberar sobre investimentos relevantes, supervisionar a diretoria executiva e avaliar, de forma contínua, o desempenho do CEO e dos principais executivos.
Também cabe ao conselho decidir sobre temas que impactam estruturalmente o negócio, como aquisições, desinvestimentos, estrutura de capital, políticas de dividendos e mudanças societárias relevantes. Não se trata de interferir na operação, mas de garantir que decisões estratégicas estejam alinhadas aos interesses da companhia e de seus acionistas.
Onde os erros estratégicos realmente começam
Muitos erros estratégicos não surgem na operação, mas da falta de questionamento. Conselhos acomodados tendem a aceitar projeções otimistas, aquisições mal avaliadas e decisões focadas apenas no curto prazo. Quando isso acontece, escolhas ruins passam sem debate e acabam comprometendo o futuro da empresa.
Essa leitura é consistente com o entendimento do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), que define o Conselho de Administração como o principal responsável pelo direcionamento estratégico e pela supervisão da gestão. Quando o conselho abdica desse papel, a governança deixa de cumprir sua função essencial: proteger a organização no longo prazo.
O Conselho de Administração como guardião do longo prazo
No meu caso, ir para o Conselho de Administração não significou me afastar do negócio, mas continuar cuidando dele de outra forma. Depois de fundar o Grupo Prime Plus em 1994 e liderar a companhia por décadas, entendi que havia chegado o momento de pensar menos na operação e mais no futuro. Hoje, como presidente do Conselho, acompanho a estratégia de uma das maiores empresas de transporte e fretamento do Norte e Nordeste, enquanto a gestão executiva está nas mãos do CEO João Pedro, meu filho. Essa mudança me permite exercer o papel que considero mais relevante neste estágio: proteger a empresa no longo prazo.
Executivos são, por natureza, pressionados por metas imediatas e ciclos curtos de resultado. O Conselho de Administração existe justamente para equilibrar essa pressão, olhando além do próximo trimestre e preservando a sustentabilidade do negócio.
Nesse contexto, um conselho forte não é adversário da gestão, tampouco um espectador passivo. Ele atua como instância de equilíbrio, apoiando decisões bem fundamentadas e impondo limites quando o risco supera o retorno esperado. Essa dinâmica exige preparo técnico, diversidade de visões e disposição para o dissenso construtivo.
Além disso, cabe ao conselho zelar pela coerência entre estratégia, alocação de capital e governança decisória. Diretrizes mal definidas ou falta de critérios claros na avaliação de investimentos podem estimular expansões artificiais, aquisições sem sinergia ou decisões orientadas apenas pelo curto prazo. Quando isso ocorre, o risco é transferido diretamente para o futuro da empresa e para seus acionistas.
Tratar o Conselho de Administração como formalidade é um erro que custa caro. Empresas não fracassam apenas por falhas de execução, mas por estratégias mal concebidas ou mal supervisionadas. Quando o conselho assume seu papel de forma ativa, a estratégia ganha consistência. Quando se omite, ela começa a morrer antes mesmo de ser executada.
Essa foi a pauta que me trouxe ao artigo de hoje. Escrevo a partir da experiência de quem precisou repensar o próprio papel para continuar contribuindo com a estratégia do negócio. Espero que essas minhas observações e posições apresentadas ajudem gestores e sócios a refletirem com mais profundidade sobre a importância do Conselho de Administração nas decisões estratégicas de uma empresa.
Até o próximo











